Aniversariar é o réveillon
dento de nós. É escutar os fogos de artificio no bater dos ponteiros a meia
noite.
Eu canso de acordar me
sentindo velha, uma velha rabugenta. Dessas reclamonas: com a louça suja, com a
escova de dente fora do lugar ou com o trânsito fora de órbita.
Não me recordo de ter sido
um bebê formoso, muito embora as fotos sempre se apresentem como iluminadas. As
fotos também trazem um silêncio doloroso, é como se muitas perguntas tivessem
ficado sem respostas. É um silêncio complexo.
A verdade é que renasci
intensamente ao longo dos 27 anos vividos. E nesse nascer de novo me deixei ser
a criança que não fui. A mãe amorosa e atenta aos sinais. Essa vida vive me
gastando, mas renego a obrigação de envelhecer quando procuro ser mais humana e
abraçar a paz que eu sempre desejei, e que hoje sei da sua permanência ao meu
lado.

Nasci velha: nas
responsabilidades adquiridas desde o abrir de olhos. Na responsabilidade de
amar e no direito de não ser amada. Nasci velha e a cada aniversário bate uma
reflexão aqui dentro, como tivesse a obrigação de somar em números frios os
assaltos da vida.
Nasci tão velha que não
guardo sapatos para ocasiões especiais, nasci velha o suficiente que a vida
pode ser mais curta do que a minúscula saia que tenho no guarda roupa. Nasci
velha para ter consciência de que posso abusar dos sentimentos, das roupas e da
vida.
Quero continuar assim:
menina, mulher, sol, brilho, óculos de sol, pedaço de mar e duas garrafas de
espumante.
Neste aniversário, talvez
mais do que os outros, eu posso dizer depois do meu longo minuto de silêncio:
obrigada Deus!
Juliana Soledade
Publicação realizada no Jornal A Região no dia 23 de Julho de 2016.
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