Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

9 de setembro de 2016

Essas mulheres

Nossos pais nos ensinaram a ser independentes, no trabalho, na cozinha ou no amor. Nos ensinam que devemos escolher nossa profissão de acordo a aptidão, a chorar até a última gota para sorrir em seguida, a aceitar o nosso corpo, o nosso sorriso. É verdade que alguns pais não ensinam, mas a vida logo trata de mostrar o bê-á-bá!

Os pratos mais sofisticados que fiz na cozinha receberam o mesmo ar de satisfação do meu pai quanto a minha aprovação na monografia. O bolo bem confeitado foi elogiado do mesmo jeito da minha seleção em uma grande empresa. Quando lancei um livro, os meus pais vibravam e apontavam para a filha escritora, quando decidir viajar para divulgá-lo, meu pai assumiu um papel incrível para cuidar de minha filha enquanto eu me realizava.

Nem todos os homens acompanham a mesma linha de raciocínio. Para a grande maioria somos impressionantes: a habilidade em desenvolver a atividade que realmente queremos, de abrir mão do conforto e sair em busca de nossas realizações.

Assustamos pela mesma condição, ser dono das próprias asas, amedronta. A independência financeira e emocional causa um desconforto no parceiro. A possibilidade de voar como pássaros em que nunca conheceram gaiolas, idem. Ou que já souberam o gosto da prisão. Assustamos pelo arbítrio de decisão, da escolha, pelo excesso de certezas. Pela seriedade em pedir perdão e seguir adiante. Por afastar os fantasmas tranquilamente.

Os homens se sentem alarmados com as mulheres que saem para happy hour com as amigas, e já imaginam os chifres postos em sua cabeça. Tem medo de mulher bem relacionada, que conhece [e conversa com] muita gente, daquelas que mantém a amizade com o açougueiro até executivo. Homens suspeitam do decote, da saia curta ou do batom vermelho.

A nossa emancipação emocional é a certeza de que nunca seremos submissas, fugiremos do cárcere, alcançaremos nossos ares. O fato de não demonstrar fragilidade incomoda. Entramos numa linha de seleção, não é qualquer quentinha de feira que agrada. Simples. O joio é facilmente substituído pelo trigo: inteiro e saudável.

Século XXI e ainda tem homem ansiando a posse de uma mulher. Bobinhos! Não vão muito longe. Queremos companheiros seguros o bastante para amar uma mulher segura o bastante.


Juliana Soledade

Crônica produzida para o Jornal A Região publicada no dia 10 de Setembro de 2016

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