Nossos pais nos ensinaram a
ser independentes, no trabalho, na cozinha ou no amor. Nos ensinam que devemos
escolher nossa profissão de acordo a aptidão, a chorar até a última gota para
sorrir em seguida, a aceitar o nosso corpo, o nosso sorriso. É verdade que
alguns pais não ensinam, mas a vida logo trata de mostrar o bê-á-bá!
Os pratos mais sofisticados
que fiz na cozinha receberam o mesmo ar de satisfação do meu pai quanto a minha
aprovação na monografia. O bolo bem confeitado foi elogiado do mesmo jeito da
minha seleção em uma grande empresa. Quando lancei um livro, os meus pais
vibravam e apontavam para a filha escritora, quando decidir viajar para divulgá-lo,
meu pai assumiu um papel incrível para cuidar de minha filha enquanto eu me
realizava.
Nem todos os homens acompanham
a mesma linha de raciocínio. Para a grande maioria somos impressionantes: a
habilidade em desenvolver a atividade que realmente queremos, de abrir mão do
conforto e sair em busca de nossas realizações.
Assustamos pela mesma condição,
ser dono das próprias asas, amedronta. A independência financeira e emocional
causa um desconforto no parceiro. A possibilidade de voar como pássaros em que
nunca conheceram gaiolas, idem. Ou que já souberam o gosto da prisão. Assustamos pelo arbítrio de
decisão, da escolha, pelo excesso de certezas. Pela seriedade em pedir perdão e
seguir adiante. Por afastar os fantasmas tranquilamente.
Os homens se sentem alarmados
com as mulheres que saem para happy hour com as amigas, e já imaginam os chifres
postos em sua cabeça. Tem medo de mulher bem relacionada, que conhece [e
conversa com] muita gente, daquelas que mantém a amizade com o açougueiro até
executivo. Homens suspeitam do decote, da saia curta ou do batom vermelho.
A nossa emancipação
emocional é a certeza de que nunca seremos submissas, fugiremos do cárcere, alcançaremos
nossos ares. O fato de não demonstrar fragilidade incomoda. Entramos numa linha de
seleção, não é qualquer quentinha de feira que agrada. Simples. O joio é
facilmente substituído pelo trigo: inteiro e saudável.
Século XXI e ainda tem homem
ansiando a posse de uma mulher. Bobinhos! Não vão muito longe. Queremos
companheiros seguros o bastante para amar uma mulher segura o bastante.
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região publicada no dia 10 de Setembro de 2016
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