O
médico sinaliza a necessidade de alguns exames. Me mantenho em jejum após as
22:00 horas, uma fome descontrolada por saber que eu não posso mais comer.
Acordo três vezes na madrugada me dirijo até a cozinha, abro a geladeira e bebo
água, apenas. Acordo com mais fome do que o normal e me apresso.
Após
a preparação psicológica para enfrentar as agulhas, encaro o caminho do
laboratório. Mãos frias, sudorese por todo o corpo quando o meu nome completo é
acionado pela enfermeira com cara de poucos amigos.
Pede
que eu me sente, acomode a bolsa e relaxe o braço. Relaxar é a única coisa
capaz de fazer naquela manhã de terça-feira. Ela põe o garrote no braço, e eu
quero fugir da cadeira. Prepara as seringas, coloca a A-G-U-L-H-A e pede que eu
feche a mão. Duas lágrimas de cada olho, não, pera, são três. Não é possível
que ela ainda vai tentar encontrar minha veia com a agulha em mãos. Não tem
mais nenhum vaso para contar história, só tem um corpo estático com taquicardia,
choroso e desesperado.
A
pressão despenca, trazem um copo de água, um pouco de conversa até que veia
trai a minha confiança e surge no dorso de minha mão. Primeira espetada e já
estou passeando entre os anéis de Saturno. A sala ao lado percebe o meu tímido
choro, a enfermeira perde a veia, eu digo que vou embora. Me arrependo, volto,
outra enfermeira me atende e refaz todo o procedimento. Minha filha segura na
minha mão e garante que não vai doer, mas dói e como dói. Sinto o meu corpo
inteiro formigando ao ver quatro seringas cheias de sangue, me sinto anêmica,
nem precisa mais de resultado. Peço duas bolsas de sangue para repor tudo o que
foi tirado, todos riem. Eu continuo chorando.
Minha
menina contou e disse que foram 35 segundos para as quatro seringas, eu contei
5 horas ininterruptas e fui uma verdadeira almofada de alfinetes. Sorry, baby!
Na
saída do laboratório me entregaram um comprovante com acesso ao resultado pela
internet. Ótimo! Dois dias depois começo a via sacra, cada dia libera um exame
diferente e eu encaro as telas do Dr. Google para descobrir cada doença que me
ronda, a cada pesquisa os sintomas se assimilam. Começo a ler os artigos científicos,
pesquiso sobre sintomas de forma individual, não batem com o resultado, mas
continuo pesquisando, encontro os remédios para curar a tal doença. Entro em
pânico. Aviso que estou nos últimos dias de minha vida, faço plano funerário,
testamento e declaração de últimas vontades.
Corro
para o consultório com todos os resultados em mãos, ao entregar o exame de
cabeça baixa ao médico ele sorri e alega tudo bem com os resultados, eu sorrio
junto, ao menos valeu a pena todo o esforço [e desespero], guardo minhas
neuroses e vou embora.
Juliana
Soledade
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