Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

21 de setembro de 2016

Agulhas: a eterna saga

O médico sinaliza a necessidade de alguns exames. Me mantenho em jejum após as 22:00 horas, uma fome descontrolada por saber que eu não posso mais comer. Acordo três vezes na madrugada me dirijo até a cozinha, abro a geladeira e bebo água, apenas. Acordo com mais fome do que o normal e me apresso.

Após a preparação psicológica para enfrentar as agulhas, encaro o caminho do laboratório. Mãos frias, sudorese por todo o corpo quando o meu nome completo é acionado pela enfermeira com cara de poucos amigos.

Pede que eu me sente, acomode a bolsa e relaxe o braço. Relaxar é a única coisa capaz de fazer naquela manhã de terça-feira. Ela põe o garrote no braço, e eu quero fugir da cadeira. Prepara as seringas, coloca a A-G-U-L-H-A e pede que eu feche a mão. Duas lágrimas de cada olho, não, pera, são três. Não é possível que ela ainda vai tentar encontrar minha veia com a agulha em mãos. Não tem mais nenhum vaso para contar história, só tem um corpo estático com taquicardia, choroso e desesperado.

A pressão despenca, trazem um copo de água, um pouco de conversa até que veia trai a minha confiança e surge no dorso de minha mão. Primeira espetada e já estou passeando entre os anéis de Saturno. A sala ao lado percebe o meu tímido choro, a enfermeira perde a veia, eu digo que vou embora. Me arrependo, volto, outra enfermeira me atende e refaz todo o procedimento. Minha filha segura na minha mão e garante que não vai doer, mas dói e como dói. Sinto o meu corpo inteiro formigando ao ver quatro seringas cheias de sangue, me sinto anêmica, nem precisa mais de resultado. Peço duas bolsas de sangue para repor tudo o que foi tirado, todos riem. Eu continuo chorando.

Minha menina contou e disse que foram 35 segundos para as quatro seringas, eu contei 5 horas ininterruptas e fui uma verdadeira almofada de alfinetes. Sorry, baby!

Na saída do laboratório me entregaram um comprovante com acesso ao resultado pela internet. Ótimo! Dois dias depois começo a via sacra, cada dia libera um exame diferente e eu encaro as telas do Dr. Google para descobrir cada doença que me ronda, a cada pesquisa os sintomas se assimilam. Começo a ler os artigos científicos, pesquiso sobre sintomas de forma individual, não batem com o resultado, mas continuo pesquisando, encontro os remédios para curar a tal doença. Entro em pânico. Aviso que estou nos últimos dias de minha vida, faço plano funerário, testamento e declaração de últimas vontades.

Corro para o consultório com todos os resultados em mãos, ao entregar o exame de cabeça baixa ao médico ele sorri e alega tudo bem com os resultados, eu sorrio junto, ao menos valeu a pena todo o esforço [e desespero], guardo minhas neuroses e vou embora.


Juliana Soledade

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