Quantas pessoas entram e
saem sem pedir licença e não faz a menor diferença? Muitas, talvez.
Eu diria a grande maioria.
Tem amigos que choramos pitangas, amores e vitórias. Tem amigos que aprendemos a amar, respeitar e cuidar. Tem amigos que é capaz de largar o cobertor quentinho às duas da manhã, cortar a cidade inteira para te levar ao hospital, para depois rir do seu drama na injeção e segurar na mão quantas vezes forem preciso. Amigo que lhe empresta dinheiro sem você assinar recibo, mesmo que o valor seja alto. Amigo que lhe chama para sociedade, só porque confia no seu potencial. Amigo que diz “vai dá certo, eu te ajudo”.
Amigo é quem te convence que
uma viagem vai te fazer bem, mas que a viagem só vai fazer bem com esse amigo. Tem
amigos que nascem para serem nossos amigos, que no primeiro bater de olhos já
existe uma identificação e sem querer já sabem da nossa vida mais do que nós
mesmo. Porque amigo de verdade não tem ressalvas, mistérios e nem senha no
celular.
Amigo é aquele que te sacode
na depressão, que guarda a sua dor para te fazer forte, que ciúma quando novos amigos
se aproximam, ou quando o rapaz começa a investir no romance.
Quando eu me acho vacinada
de chegadas e partidas, um amigo que extravasa a condição de mera amizade e entra
por muitas vezes no condão de irmão, liga e diz: “estou indo embora no domingo”,
palavras que me cortaram o peito e fiquei perdida no meu choro com ele me
chamando do outro lado da linha. Desliguei, feito uma criança mimada. E me
recusei a dar adeus, porque sim, eu sei que qualquer dia desses a gente topa na
vida de novo, para rirmos juntos daquela queda que tomei, daquele toco que
levei ou daquela vez que disse: “eu te avisei”. Eu sei que ainda vamos comer
muitas pizzas de quatro queijos com borda recheada, ainda vamos beber caipirokas até errar o sabor, e vamos
sair energizado de um show de Vanessa da Matta. Vamos, eu sei.
É você que foi meu companheiro
de conquistas e de choros com soluços. Que sempre atendeu meu telefone e que me
perguntava sobre os seus planos. Rimos dos tropeços. Rimos das mancadas. Rimos
dos medos bobos e daqueles nem tão bobos assim. É você que me defende feito um
bicho, que mostra que o gatinho é um cordeiro. É você que diz: “relaxe”. É com
você que divido uma rodada de tapioca ou uma série de caretas.
Mas eu fico daqui, te desejo
toda sorte na vida, e agradecendo por todo o tempo que esteve segurando minhas
asas, acolhendo meus prantos e vibrando comigo. Porque agora elas estão tortas,
molhadas, frias.
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região publicado no dia 09 de Abril de 2016
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