Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

9 de abril de 2016

Amigo

Quantas pessoas entram e saem sem pedir licença e não faz a menor diferença? Muitas, talvez. Eu diria a grande maioria.

Tem outras que começam a ser a nossa sub pele, sabe? São pessoas que precisamos correr para contar os nossos projetos, vão ponderar, e que vão nos apoiar, mesmo que não seja o mais correto. Tem pessoas que sabem de segredos que nem lembrávamos. Sabem da nossa cor preferida, do nosso vinho favorito e dos nossos gostos mais peculiares.

Tem amigos que choramos pitangas, amores e vitórias. Tem amigos que aprendemos a amar, respeitar e cuidar. Tem amigos que é capaz de largar o cobertor quentinho às duas da manhã, cortar a cidade inteira para te levar ao hospital, para depois rir do seu drama na injeção e segurar na mão quantas vezes forem preciso. Amigo que lhe empresta dinheiro sem você assinar recibo, mesmo que o valor seja alto. Amigo que lhe chama para sociedade, só porque confia no seu potencial. Amigo que diz “vai dá certo, eu te ajudo”.


Amigo é quem te convence que uma viagem vai te fazer bem, mas que a viagem só vai fazer bem com esse amigo. Tem amigos que nascem para serem nossos amigos, que no primeiro bater de olhos já existe uma identificação e sem querer já sabem da nossa vida mais do que nós mesmo. Porque amigo de verdade não tem ressalvas, mistérios e nem senha no celular.

Amigo é aquele que te sacode na depressão, que guarda a sua dor para te fazer forte, que ciúma quando novos amigos se aproximam, ou quando o rapaz começa a investir no romance.

Quando eu me acho vacinada de chegadas e partidas, um amigo que extravasa a condição de mera amizade e entra por muitas vezes no condão de irmão, liga e diz: “estou indo embora no domingo”, palavras que me cortaram o peito e fiquei perdida no meu choro com ele me chamando do outro lado da linha. Desliguei, feito uma criança mimada. E me recusei a dar adeus, porque sim, eu sei que qualquer dia desses a gente topa na vida de novo, para rirmos juntos daquela queda que tomei, daquele toco que levei ou daquela vez que disse: “eu te avisei”. Eu sei que ainda vamos comer muitas pizzas de quatro queijos com borda recheada, ainda vamos beber caipirokas até errar o sabor, e vamos sair energizado de um show de Vanessa da Matta. Vamos, eu sei.

É você que foi meu companheiro de conquistas e de choros com soluços. Que sempre atendeu meu telefone e que me perguntava sobre os seus planos. Rimos dos tropeços. Rimos das mancadas. Rimos dos medos bobos e daqueles nem tão bobos assim. É você que me defende feito um bicho, que mostra que o gatinho é um cordeiro. É você que diz: “relaxe”. É com você que divido uma rodada de tapioca ou uma série de caretas.   

Mas eu fico daqui, te desejo toda sorte na vida, e agradecendo por todo o tempo que esteve segurando minhas asas, acolhendo meus prantos e vibrando comigo. Porque agora elas estão tortas, molhadas, frias.



Juliana Soledade

Crônica produzida para o Jornal A Região publicado no dia 09 de Abril de 2016

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