O desejo não amordaçado é
aquele que te faz abandonar sua confortável cama, te leva ao aeroporto à compra
de passagens de última da hora, a atravessar estados para compartilhar a pessoa
almejada. E isso pode ser “na rua, na chuva ou numa casinha de sapê”, o
importante dessa geração é não se limitar [e nem se reprimir] por qualquer
motivo, tenha ele o tamanho que for.
O poder da realização de um
desejo é tão potente quanto a Hiroshima e Nagasaki, não importando o que ou
quem estará à frente. O desejo nos torna em verdadeiros cego-guerreiros;
Sabe-se que estamos lutando e para o que estamos lutando, mas o meio pouco
importa: convém cartão de crédito, milhas de companhia aérea, ou o bico no
final de semana. O importante é o resultado final.
Estamos na magia dos
sem-limites, nos anseios potencializados, no ‘eu quero, eu posso, eu consigo‘,
sabe Deus como são as formas para a realização desses desejos
desproporcionalmente ilimitados.
E não existe família, filho
pequeno ou cônjuge enfermo. Meu amigo, quando se deseja alguém nem gravidez
desejada segura o marido em casa. Tem o jogo de futebol com amigos, treino
funcional sem uma gota de suor, o carro quebra e o guincho demora uma vida para
chegar, tem celular tocando freneticamente, “oi amor, já estou chegando”, tem
paciente com crise no pâncreas as duas da manha e vez ou outra o celular fica desligado,
“estava sem sinal”, ou “acabou a bateria”.
Nas teorias indianas o
desejo é definido como fonte do sofrimento humano, e também como a prisão da
existência humana. Já o respeitado pensador da modernidade Bauman qualifica as
relações afetivas da contemporaneidade como líquidas, ou ainda estamos imersos
em tempos líquidos, e faz o maior sentido.
Estamos na compulsão da
experiência sensorial que perdemos o sentido [e sentimento] dos acontecimentos.
Estamos no efeito carnal de sonhos solidificados, materializados... E os nossos
sonhos não estão mais em condições de inexecutáveis. Tudo é absurdamente
possível!
Enquanto de um lado o poder
do desejo é a rede moinho para intensificar as suas realizações, do outro
impera a falta de racionalidade, mas até onde se vale ser racional?
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região publicado em 13 de Fevereiro de 2016.
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