Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

13 de fevereiro de 2016

Frutos do desejo

O desejo não amordaçado é aquele que te faz abandonar sua confortável cama, te leva ao aeroporto à compra de passagens de última da hora, a atravessar estados para compartilhar a pessoa almejada. E isso pode ser “na rua, na chuva ou numa casinha de sapê”, o importante dessa geração é não se limitar [e nem se reprimir] por qualquer motivo, tenha ele o tamanho que for.

O poder da realização de um desejo é tão potente quanto a Hiroshima e Nagasaki, não importando o que ou quem estará à frente. O desejo nos torna em verdadeiros cego-guerreiros; Sabe-se que estamos lutando e para o que estamos lutando, mas o meio pouco importa: convém cartão de crédito, milhas de companhia aérea, ou o bico no final de semana. O importante é o resultado final.

Estamos na magia dos sem-limites, nos anseios potencializados, no ‘eu quero, eu posso, eu consigo‘, sabe Deus como são as formas para a realização desses desejos desproporcionalmente ilimitados.

E não existe família, filho pequeno ou cônjuge enfermo. Meu amigo, quando se deseja alguém nem gravidez desejada segura o marido em casa. Tem o jogo de futebol com amigos, treino funcional sem uma gota de suor, o carro quebra e o guincho demora uma vida para chegar, tem celular tocando freneticamente, “oi amor, já estou chegando”, tem paciente com crise no pâncreas as duas da manha e vez ou outra o celular fica desligado, “estava sem sinal”, ou “acabou a bateria”.

Nas teorias indianas o desejo é definido como fonte do sofrimento humano, e também como a prisão da existência humana. Já o respeitado pensador da modernidade Bauman qualifica as relações afetivas da contemporaneidade como líquidas, ou ainda estamos imersos em tempos líquidos, e faz o maior sentido.

Estamos na compulsão da experiência sensorial que perdemos o sentido [e sentimento] dos acontecimentos. Estamos no efeito carnal de sonhos solidificados, materializados... E os nossos sonhos não estão mais em condições de inexecutáveis. Tudo é absurdamente possível!


Enquanto de um lado o poder do desejo é a rede moinho para intensificar as suas realizações, do outro impera a falta de racionalidade, mas até onde se vale ser racional? 

Juliana Soledade

Crônica produzida para o Jornal A Região publicado em 13 de Fevereiro de 2016.

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