"E
quando eu peço proteção
Não é pra fugir do ladrão
Nem pra me esconder na igreja
Eu quero é que deus nos proteja"
Confortavelmente e protegida em meu
leito, mas nas ruas uma guerra fria, com sangue, fogo e selvageria. Parece-me
que estamos tão magoados ou envoltos de uma fúria interna tão agigantada que
não nos basta apenas lamentar-se com os amigos nas redes sociais, ou protocolar
uma reclamação nos órgãos responsáveis. A realidade agora se encaixa em
definições anarquistas.
Em um raio de 50 km, somos alvos das
piores mazelas, castigados diariamente com surpreendentes noticias de fins
trágicos e mínimas divulgações positivas sobre o bem comum (se é que
conseguimos pensar nisso).
A implacável batalha do tráfico, dos
raios e o derramamento contínuo de sangue, bens, vidas e trabalhadores vitimizados.
Os diários crimes bárbaros, seja com um ataque terrorista próximo a um bar
famoso na cidade. Ou talvez, por essa onda de terror que estamos vivendo, de
múltiplos boatos e de coração sempre na mão temendo um arrastão.
Engana-se quem pensa que estou citando
caso de uma grande metrópole, esse é um simples retrato de uma cidade de médio
porte que a cada dia vem se afundando numa triste realidade. Casos constantes e
uma realidade exposta até para quem não quer ver. Uma onda de homicídios e
brutalidades que sempre somos premiados, comumente estampando noticiários como
a cidade mais violenta do país.
Conflitos que extrapolam as dimensões
e propõem a nós cidadãos de bem estarmos além do raio A ou B. Dispomos do ódio
voraz, da partilha de sentimentos negativos - e tão vingativos - que sequer
estamos nos dando conta do encontro do nosso destino, um neo anarquismo
descomedido, transformando o futuro primitivo, ao tentar pagar na mesma moeda.
Em que valha a violência e
estatísticas absurdamente altas, ainda vemos autoridades jurídicas colocando
pessoas contra policiais. Pera lá, já não basta os absurdos que temos que
admitir, ainda tem mais esse. Qualificando
aqueles que têm como missão proteger a sociedade como homicidas. Como canta
Nando Reis “o mundo está ao contrário e ninguém reparou”.
Estamos nos lamentando cada vez mais,
queixando da situação sem ter nenhuma solução cabível em mente. Entristecemos
por ser obrigados a abandonar os nossos hábitos culturais, nossos momentos na
praça com um sorvete na mão.

Como
se não bastasse à guerra o tráfico, no crime, nas dores, ainda fomos obrigados
a travar uma guerra com um mosquito, tão violento e tão nocivo, que mal sabemos
como nos proteger.
Lulu Santos diria: "Assim caminha
a humanidade, com passos de formiga e sem vontade...", Renato Russo
bradaria "Quem pensa por si só é livre e ser livre é coisa muito
séria", Caetano Veloso, sairia "Sem lenço, sem documento, nada no
bolso ou nas mãos, eu quero seguir vivendo..". Estamos numa verdadeira
sociedade do medo. Alguns estão a dois passos do paraíso, nós estamos a um
passo da hostilidade.
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região publicado em 22 de Fevereiro de 2016.