Faz quase seis anos que eu comecei a
aprender a lidar com a morte. Foi traumático, doloroso, triste... E ainda me
sinto uma menininha medrosa quando vejo ela se aproximar. Seja de mim, seja de
alguém próximo. Nessa vida tão efêmera, tão instantânea e passageira.
Um amigo alcançou a cura pelo câncer,
outro dia, recebi a notícia e chorei de alegria por saber que a vida lhe
brindou com um recomeço incrível ao lado de sua esposa gestante de gêmeos. Uma
vitória emocionada, dele pela força e garra de não se deixar fraquejar em
nenhum momento do tratamento, mesmo com as reações comuns que são esperadas, o
sorriso no rosto era o bálsamo para a família e amigos enquanto passava longas
horas quinzenais na clínica sendo medicado. E por ele, um casal de bebês
anunciando a vida nova. Para ele, um brinde na existência.
Em junho consolei uma amiga pela perda
precoce de seu marido, vítima de um câncer violento e desleal. Lutou feito
gente grande, recebeu todos os cuidados possíveis, desde o amor em doses cavalares
até os cuidados médicos em todos os seus estágios. Seu coração pedia a salvação
e ver seu filho crescer, sua cabeça disse que não, e nessa guerra injusta a
morte venceu.
Não espere o fim para o abraço
demorado, a ligação cheia de saudades, para entregar o presente prometido. Não
aguarde a doença para demonstrar preocupação, ou o caixão para declarar amor. “Tudo
passa tomando chá ou cachaça”, assim cantava Cassia Eller.
Vivemos numa intensa viagem sem bússola
nas mãos, desafiando o tempo, nos entregando em nossos sonhos, buscando coragem
a cada passo. Anunciando fins e recomeços. Costurando memórias numa bela colcha
de retalhos, e recorrendo a ela infindáveis vezes para buscar as famosas
lembranças.
Já percebeu como o ano passou rápido?
Não espere o espírito natalino para o perdão, ou para ajudar aquela instituição
de caridade, isso só traz um alivio na consciência para começar o ano em paz e esquecer-se
de quem precisa o resto do ano.
Natal traz abraço sem vontade, roupa
nova na sala e gastos desnecessários. Traz sorrisos amarelos e famílias
perfeitas como comercial de margarina. Traz cartinhas de crianças implorando
que os seus sonhos sejam realizados, sem saber o verdadeiro sentido de natal.
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região publicada no dia 19 de Dezembro de 2015.
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