Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

19 de dezembro de 2015

Dezembro

Faz quase seis anos que eu comecei a aprender a lidar com a morte. Foi traumático, doloroso, triste... E ainda me sinto uma menininha medrosa quando vejo ela se aproximar. Seja de mim, seja de alguém próximo. Nessa vida tão efêmera, tão instantânea e passageira.

Um amigo alcançou a cura pelo câncer, outro dia, recebi a notícia e chorei de alegria por saber que a vida lhe brindou com um recomeço incrível ao lado de sua esposa gestante de gêmeos. Uma vitória emocionada, dele pela força e garra de não se deixar fraquejar em nenhum momento do tratamento, mesmo com as reações comuns que são esperadas, o sorriso no rosto era o bálsamo para a família e amigos enquanto passava longas horas quinzenais na clínica sendo medicado. E por ele, um casal de bebês anunciando a vida nova. Para ele, um brinde na existência.

Em junho consolei uma amiga pela perda precoce de seu marido, vítima de um câncer violento e desleal. Lutou feito gente grande, recebeu todos os cuidados possíveis, desde o amor em doses cavalares até os cuidados médicos em todos os seus estágios. Seu coração pedia a salvação e ver seu filho crescer, sua cabeça disse que não, e nessa guerra injusta a morte venceu.

Não espere o fim para o abraço demorado, a ligação cheia de saudades, para entregar o presente prometido. Não aguarde a doença para demonstrar preocupação, ou o caixão para declarar amor. “Tudo passa tomando chá ou cachaça”, assim cantava Cassia Eller.

Vivemos numa intensa viagem sem bússola nas mãos, desafiando o tempo, nos entregando em nossos sonhos, buscando coragem a cada passo. Anunciando fins e recomeços. Costurando memórias numa bela colcha de retalhos, e recorrendo a ela infindáveis vezes para buscar as famosas lembranças.

Já percebeu como o ano passou rápido? Não espere o espírito natalino para o perdão, ou para ajudar aquela instituição de caridade, isso só traz um alivio na consciência para começar o ano em paz e esquecer-se de quem precisa o resto do ano.

Natal traz abraço sem vontade, roupa nova na sala e gastos desnecessários. Traz sorrisos amarelos e famílias perfeitas como comercial de margarina. Traz cartinhas de crianças implorando que os seus sonhos sejam realizados, sem saber o verdadeiro sentido de natal.

Juliana Soledade

Crônica produzida para o Jornal A Região publicada no dia 19 de Dezembro de 2015.

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