Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

12 de dezembro de 2015

Adeus graduação

É estranho sair sem dizer adeus, sem abraços, ou ao menos um simples registro já que estamos tão absorvidos com a tecnologia. Mas foi assim para mim, um fim sem declarações – apesar de querer fazê-las -, uma despedida solitária a cada passo nos corredores, um suspiro de dever cumprido a cada porta que fizeram parte dos meus longos 10 semestres.

Assinar a última prova, entregar ao professor que esteve presente em tantas interrogações ao longo dos cinco anos de curso e em pouco tempo será colega de profissão pelas mesas de audiências, e consequentemente de novas dúvidas práticas, é um sentimento de gratidão sem fim.

Diferente do primeiro dia de aula, em que estava deslocada no meio de tantos colegas experientes, fosse com as leis, fosse com os tantos termos jurídicos, hoje eu saio com a cabeça erguida de vitória, de completude. Um ciclo que se finda, e outro que se arregala para os dias vindouros.

Nunca fui uma boa aluna, nunca me destaquei entre os colegas, nunca fui aquela colega queridinha pela maioria (e talvez nem pela minoria). Sempre quis carregar os destaques comigo sigilosamente, nunca pela maior nota numa prova, ou a aprovação na matéria sem muito esforço. Sim, pelos dias que parecia um zumbi do The walking Dead ao virar noites enfurnada com a cara nos livros.

Foram cinco longos anos de superações, de pequenez, de sorrisos escondidos, assim como as lágrimas. Anos que eu disfarcei as dores e as fraquezas. Anos em que aprendi a carregar livros na bolsa, no carro ou nas viagens. Anos que tive medo de não conseguir cruzar o portão da faculdade com uma palavra composta de oito letras: APROVADA. Medo de não ser capaz de entregar o diploma nos braços da pequena Maria e dizer: - Isto foi por/para você.

O direito me trouxe uma estante cheia de livros jurídicos, me fez aprender a quebrar as regras de física e estar em dois lugares ao mesmo tempo. O direito me ensinou a estudar no momento que a filha dormia, ou enquanto fingia trabalhar. Ele me ensinou sobre erros imperdoáveis, fosse no tribunal, fosse no grupo de whatsaap.



Eu sempre fui meio estranha, confesso. Me apaixonei pelo direito da mesma proporção que pela literatura. Tomei outros rumos dentro da sala de aula. Escolhi estudar teologia, fazer pós-graduação, trabalhar, cuidar de filho e tornar-me escritora simultaneamente. Eu saio assim, sem dinheiro nos bolsos ou nas mãos, sem saber os sonhos dos colegas, ou ter projetos de sociedade. Eu avisei, sou meio estranha. 

Juliana Soledade

Crônica produzida para o Jornal A Região publicado no dia 12 de dezembro de 2015.

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