É estranho sair sem dizer
adeus, sem abraços, ou ao menos um simples registro já que estamos tão
absorvidos com a tecnologia. Mas foi assim para mim, um fim sem declarações –
apesar de querer fazê-las -, uma despedida solitária a cada passo nos
corredores, um suspiro de dever cumprido a cada porta que fizeram parte dos
meus longos 10 semestres.
Assinar a última prova,
entregar ao professor que esteve presente em tantas interrogações ao longo dos
cinco anos de curso e em pouco tempo será colega de profissão pelas mesas de
audiências, e consequentemente de novas dúvidas práticas, é um sentimento de
gratidão sem fim.
Diferente do primeiro dia de
aula, em que estava deslocada no meio de tantos colegas experientes, fosse com
as leis, fosse com os tantos termos jurídicos, hoje eu saio com a cabeça erguida
de vitória, de completude. Um ciclo que se finda, e outro que se arregala para
os dias vindouros.
Nunca fui uma boa aluna,
nunca me destaquei entre os colegas, nunca fui aquela colega queridinha pela
maioria (e talvez nem pela minoria). Sempre quis carregar os destaques comigo sigilosamente,
nunca pela maior nota numa prova, ou a aprovação na matéria sem muito esforço. Sim,
pelos dias que parecia um zumbi do The
walking Dead ao virar noites enfurnada com a cara nos livros.
Foram cinco longos anos de
superações, de pequenez, de sorrisos escondidos, assim como as lágrimas. Anos que eu disfarcei as dores e as fraquezas. Anos
em que aprendi a carregar livros na bolsa, no carro ou nas viagens. Anos que
tive medo de não conseguir cruzar o portão da faculdade com uma palavra
composta de oito letras: APROVADA. Medo de não ser capaz de entregar o diploma
nos braços da pequena Maria e dizer: - Isto foi por/para você.
O direito me trouxe uma
estante cheia de livros jurídicos, me fez aprender a quebrar as regras de
física e estar em dois lugares ao mesmo tempo. O direito me ensinou a estudar no
momento que a filha dormia, ou enquanto fingia trabalhar. Ele me ensinou sobre erros imperdoáveis, fosse no tribunal, fosse no grupo de whatsaap.
Eu sempre fui meio estranha,
confesso. Me apaixonei pelo direito da mesma proporção que pela literatura.
Tomei outros rumos dentro da sala de aula. Escolhi estudar teologia, fazer
pós-graduação, trabalhar, cuidar de filho e tornar-me escritora
simultaneamente. Eu saio assim, sem dinheiro nos bolsos ou nas mãos, sem saber
os sonhos dos colegas, ou ter projetos de sociedade. Eu avisei, sou meio
estranha.
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região publicado no dia 12 de dezembro de 2015.