Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

2 de novembro de 2015

Tempo

O meu amor pelo tempo tem sido colocado em questão com frequência. Vive exigindo prazos, metas e apontamentos. Aos 20 te cobram a faculdade, aos 30 uma vida encaminhada profissionalmente, aos 40 a família perfeita, e se nada disso se encaixar no roteiro, o maldito tempo passa e os consultórios de terapia ficam lotados de pessoas frustradas com ‘socialmente correto’ que não foi alcançado.
Começando pelo facebook a toda manhã mostrando o que eu estava fazendo no mesmo dia em anos anteriores, muito mais do que nostálgico é perceber o quanto amadurecimento foi eficaz ao longo dos anos. Fechei os olhos dentro de um carro na quinta-feira passada e lá estava eu indo a caminho da capital, abro os olhos hoje e já se passou uma semana. Parece que nada aconteceu nesse período, mas sim, houve tantas informações, tantos risos, tantos banhos de lavar a alma, houve vivência.

Como se fosse um exercício mental recordei que já faz um mês que bateram no meu carro, e eu chorei feito uma criança quando roubam o pirulito mais bonito de suas mãos. Continuei puxando na memória as atividades dos meses anteriores e fiquei ofegante, talvez tenha sido um dos anos mais cansativos, apesar de próximo do fim, parece que ainda tenho o Everest para subir, penso eu.
Quando criança as férias duravam uma eternidade, as manhãs eram mais vibrantes, as chuvas não demoravam e os sorvetes derretiam bem devagar. À medida que somamos números as nossas idades o tempo ganha peso, tanto da experiência quanto das obrigações. O tempo não salva a morte, não promete amores eternos, tampouco garante a cura para o câncer.
Parece que deixei de ser criança ontem, ainda consigo sentir o cheiro de água maravilha que escorria pelas mãos das irmãs no colégio a cada joelho ralado. Sinto o coração disparado no nascimento de minha filha. O arrependimento de ter dito sim no altar. Consigo viver outra vez a sensação de liberdade na primeira separação. Fecho os olhos e tenho ainda com mais certeza de que o tempo formou o eu hoje, e agradeço, agradeço e agradeço. Como Caetano Veloso canta, um senhor “compositor de destinos”, em Oração ao tempo.
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região, do dia 17 de Outubro de 2015.

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