Entre
uma taça de vinho e outra, eu afirmei: “eu não vivo muito”, olhares espantados
e descrentes. A verdade é que é preciso uma força descomunal para lutar com
essa fadiga do não ter uma identificação precisa sobre determinados sintomas,
sobre idas a hospital. Tenho uma fraqueza imensa com atendimentos de cinco
minutos, com o combo: ‘voltaren + buscopam + predinisona’, logo em seguida pode
ir pra casa, algumas furadas e nenhum repouso.
Outro
dia fui marcar uma consulta num médico que antes mesmo da consulta deveria
fazer uma bateria de exames e levar pronto para a consulta. “Isso é um
retorno”, eu indaguei. A recepcionista disse que era ‘praxe’. Pedi que
incluísse no tal pedido um exame especifico de vitaminas, me foi negado. Fui
embora sem olhar para trás e obviamente sem pegar a guia de exames.
Noutra
consulta, a médica foi mais imprudente, não conferiu exames e me diagnosticou
com uma síndrome ‘de não sei o quê’ e em seguida, fez uma lista com pelo menos
sete remédios. Depois de assustada, eu esqueci propositalmente a receita – quase
bíblia – na própria sala.
Senti
o coração querer falhar um dia desses e cada médico de três me trouxeram um
diagnóstico diferente. Cada um com uma lista de medicamentos ainda maior.
Afirmei fazer o tratamento como mandava o figurino, como cada um deles indicou,
mas a verdade, cá entre nós, é que eu não ingeri nenhum comprimido. E olha,
estou viva, correndo sete quilômetros vez ou outra.
Hoje
percebo cada vez mais farmácias e cada vez mais farmácias cheias. Parece
incrível como pode ter tanta gente precisando de ‘milagres para a saúde’. O
fato é que cansa saber que tudo apenas se resolve com uma porção de remédios
sobrenaturais; pessoas continuamente doentes e um mercado vasto entre a
indústria farmacêutica e consultórios médicos.
Por
obra do destino, encontrei alguém bacana no caminho. Alguém que abriu o sorriso
na mesma proporção do ‘vamos investigar’. Um médico que foi enfático ao dizer:
“pare os remédios”, trocou as prescrições de ‘poções mágicas’ por uma consulta
demorada e listas de exames para descobrir todas as causas de infinitas idas ao
hospital, e consequentemente a essa entrega desleal aos efeitos colaterais.
É
raro, eu sei. Por isso estou pensando num outro futuro de vida depois deste
atendimento médico. Desconstruções que assustam, mas que ao mesmo tempo
acalentam. Falas ditas com segurança e conhecimento de causa, isso conforta.
Calculo que há pelo menos 10 anos ingiro adoçante, como regra raramente
descumprida. Tenho um verdadeiro pavor a açúcar refinado, àquela camada de
gordura da picanha, a comidas salgadas. E esse médico com fundamentos cabíveis,
disse: “abandone o adoçante”. Ok, é difícil, estou descontruindo.
Encontrar
com esse médico que leva a graça de Dr. Cássio, foi um alento. É como descobrir
que nem todos estão vendidos às indústrias farmacêuticas, ao magnetismo do
consumismo. Sim, parece que a luz no fim do túnel brilhou. Touché!
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região, publicado no dia 07 de Novembro de 2015
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