Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

7 de novembro de 2015

Medicina: amor ou status?

Entre uma taça de vinho e outra, eu afirmei: “eu não vivo muito”, olhares espantados e descrentes. A verdade é que é preciso uma força descomunal para lutar com essa fadiga do não ter uma identificação precisa sobre determinados sintomas, sobre idas a hospital. Tenho uma fraqueza imensa com atendimentos de cinco minutos, com o combo: ‘voltaren + buscopam + predinisona’, logo em seguida pode ir pra casa, algumas furadas e nenhum repouso.

Outro dia fui marcar uma consulta num médico que antes mesmo da consulta deveria fazer uma bateria de exames e levar pronto para a consulta. “Isso é um retorno”, eu indaguei. A recepcionista disse que era ‘praxe’. Pedi que incluísse no tal pedido um exame especifico de vitaminas, me foi negado. Fui embora sem olhar para trás e obviamente sem pegar a guia de exames.

Noutra consulta, a médica foi mais imprudente, não conferiu exames e me diagnosticou com uma síndrome ‘de não sei o quê’ e em seguida, fez uma lista com pelo menos sete remédios. Depois de assustada, eu esqueci propositalmente a receita – quase bíblia – na própria sala.

Senti o coração querer falhar um dia desses e cada médico de três me trouxeram um diagnóstico diferente. Cada um com uma lista de medicamentos ainda maior. Afirmei fazer o tratamento como mandava o figurino, como cada um deles indicou, mas a verdade, cá entre nós, é que eu não ingeri nenhum comprimido. E olha, estou viva, correndo sete quilômetros vez ou outra.

Hoje percebo cada vez mais farmácias e cada vez mais farmácias cheias. Parece incrível como pode ter tanta gente precisando de ‘milagres para a saúde’. O fato é que cansa saber que tudo apenas se resolve com uma porção de remédios sobrenaturais; pessoas continuamente doentes e um mercado vasto entre a indústria farmacêutica e consultórios médicos.

Por obra do destino, encontrei alguém bacana no caminho. Alguém que abriu o sorriso na mesma proporção do ‘vamos investigar’. Um médico que foi enfático ao dizer: “pare os remédios”, trocou as prescrições de ‘poções mágicas’ por uma consulta demorada e listas de exames para descobrir todas as causas de infinitas idas ao hospital, e consequentemente a essa entrega desleal aos efeitos colaterais.

É raro, eu sei. Por isso estou pensando num outro futuro de vida depois deste atendimento médico. Desconstruções que assustam, mas que ao mesmo tempo acalentam. Falas ditas com segurança e conhecimento de causa, isso conforta. Calculo que há pelo menos 10 anos ingiro adoçante, como regra raramente descumprida. Tenho um verdadeiro pavor a açúcar refinado, àquela camada de gordura da picanha, a comidas salgadas. E esse médico com fundamentos cabíveis, disse: “abandone o adoçante”. Ok, é difícil, estou descontruindo.


Encontrar com esse médico que leva a graça de Dr. Cássio, foi um alento. É como descobrir que nem todos estão vendidos às indústrias farmacêuticas, ao magnetismo do consumismo. Sim, parece que a luz no fim do túnel brilhou. Touché!

Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região, publicado no dia 07 de Novembro de 2015

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