Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

15 de novembro de 2015

Desamor


Foi-se o tempo me que eu me entregava ao amor com as vistas vendadas. Quando mais nova eu tinha o romantismo como uma religião. Fechava os olhos e sonhava acordada com amor sendo devolvido na mesma proporção. Sentia o frio na barriga toda vez que o moço se dirigia a mim. Creditava bilhetes românticos no meio da agenda e dos bolsos.
Já aconteceu de acreditar em filmes de amor. Já aconteceu de acreditar em pedidos de namoros, de imaginar casamentos para a vida inteira. Já aconteceu de pensar que as pessoas lutariam por quem se ama. Já aconteceu de pensar que as pessoas não seriam dispensadas sumariamente quando nos magoassem. Já aconteceu de esperar um perdão despido de mentiras.
Já acreditei na leveza das flores perfumadas, de alianças e de mãos dadas. Já acreditei no ‘eu te amo’ sincero, em juras eternas e em promessas memoráveis. Antes eu pensava que as pessoas se amavam e se casavam por afinidade, por desejo, por escolha e não por carência, pela expectativa do prazer, ou pelo interesse. Os critérios de triagem estão em desequilibro. Eu já pensei que as pessoas faziam o bem se esperar muita coisa em troca, nada além de um obrigado.
Quando lia texto de amor eu sempre acreditava que tinha um grande romance incentivando tudo isso. Depois eu descobri que as pessoas que mais falam de amor são as mais carentes, as mais solitárias, as mais necessitadas de afeto. Ok, sempre tem exceção às regras.
O romantismo está cafona, o amor está brega. Olhos nos olhos só nas músicas. Declarações estão levianas. Entrega de corpo e alma sem rede social é quase nula. O amor é banalizado. As agendas estão lotadas. E o individualismo é um mal que assola.

A vida de repente nos desperta e petrifica o coração.  Eu não sei se já fui boba o suficiente, ou se me falta amor. Estamos cada vez mais ocupados com nós mesmos, com nossas vontades, com o nosso mundo particular tão cheio de si.  Tornamo-nos solitários, presos em nossas redes sociais. Antes somente o bate-papo da uol era inofensivo nos relacionamentos, hoje temos dezenas de redes que nos tornamos obrigados a seguir e dar satisfação. Não conseguimos desligar celulares ao deitar, e nem usamos mais relógio com despertador. E a felicidade se limita apenas a registros deslumbrantes para o mundo ver.

Juliana Soledade

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