Foi-se o tempo me que eu me entregava ao amor com as vistas
vendadas. Quando mais nova eu tinha o romantismo como uma religião. Fechava os
olhos e sonhava acordada com amor sendo devolvido na mesma proporção. Sentia o
frio na barriga toda vez que o moço se dirigia a mim. Creditava bilhetes
românticos no meio da agenda e dos bolsos.
Já aconteceu de acreditar em filmes de amor. Já aconteceu de
acreditar em pedidos de namoros, de imaginar casamentos para a vida inteira. Já
aconteceu de pensar que as pessoas lutariam por quem se ama. Já aconteceu de
pensar que as pessoas não seriam dispensadas sumariamente quando nos magoassem.
Já aconteceu de esperar um perdão despido de mentiras.
Já acreditei na leveza das flores perfumadas, de alianças e de
mãos dadas. Já acreditei no ‘eu te amo’ sincero, em juras eternas e em
promessas memoráveis. Antes eu pensava que as pessoas se amavam e se casavam
por afinidade, por desejo, por escolha e não por carência, pela expectativa do
prazer, ou pelo interesse. Os critérios de triagem estão em desequilibro. Eu já
pensei que as pessoas faziam o bem se esperar muita coisa em troca, nada além
de um obrigado.
Quando lia texto de amor eu sempre acreditava que tinha um
grande romance incentivando tudo isso. Depois eu descobri que as pessoas que
mais falam de amor são as mais carentes, as mais solitárias, as mais
necessitadas de afeto. Ok, sempre tem exceção às regras.
O romantismo está cafona, o amor está brega. Olhos nos olhos só
nas músicas. Declarações estão levianas. Entrega de corpo e alma sem rede
social é quase nula. O amor é banalizado. As agendas estão lotadas. E o
individualismo é um mal que assola.
A vida de repente nos desperta e petrifica o coração. Eu não sei se já fui boba o suficiente, ou se
me falta amor. Estamos cada vez mais ocupados com nós mesmos, com nossas
vontades, com o nosso mundo particular tão cheio de si. Tornamo-nos solitários, presos em nossas
redes sociais. Antes somente o bate-papo da uol era inofensivo nos
relacionamentos, hoje temos dezenas de redes que nos tornamos obrigados a
seguir e dar satisfação. Não conseguimos desligar celulares ao deitar, e nem
usamos mais relógio com despertador. E a felicidade se limita apenas a
registros deslumbrantes para o mundo ver.
Juliana Soledade
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