Ao
que parece 2015 será um ano marcado por grandes tragédias, e por pessoas
querendo medir o tamanho de cada uma delas, culpando a ausência de proteção
divina sobre atitudes irracionalmente humanas.
No
início do ano um avião destruiu primariamente 150 vidas, nos Alpes Franceses,
consequentemente, muitas outras foram atingidas. Pais que perderam seus filhos,
maridos que não deram o último beijo, filhos que não receberam o derradeiro
abraço. E quem levou a culpa? Um piloto que foi diagnosticado com depressão e
estava inapto para exercer a sua atividade, porém omitiu os fatos até quando
conseguiu.
O
terremoto no Nepal matou nove mil pessoas, e deixou mais de vinte e três mil
feridos. E muitos se perguntaram, onde estavam todos os deuses do hinduísmo que
não evitaram tamanha tragédia? Provavelmente estavam onde sempre estiveram.
Em
seguida aquela imagem angustiante do menino sírio de três anos de idade que
morreu afogado ainda permeia a nossa memória, ali era apenas a pequena mostra
dos tantos barcos em condições nada convenientes que deixavam países do Oriente
médio e da África, de centenas de refugiados não chegaram ao seu destino.
A
vingança destilada de ódio em nome de Allah, neste ano, começou na França com o
massacre no jornal sátiro francês. E seguiu em nome do fanatismo durante todo o
ano. E eu penso: quantos inocentes sacrificam suas vidas, sem terem outra
escolha?
O
rompimento dos rejeitos de mineração em Mariana/MG causou uma das maiores
catástrofes ambiental do país e sabe que paga a conta? Isso mesmo... eu, você,
seu pai, seu vizinho. Mas a nossa conta é bem pequena, a tarifa maior é de quem
não tem água, não tem comida, de quem teve a sua casa arrastada, de quem perdeu
a vida, dos animais que estão morrendo, da flora. A pior conta mesmo é do Rio
doce que não foi poluído, o Rio doce não existe mais. E ‘zefini’.
A
Chapada Diamantina está se acabando em chamas, supostamente criminosa. E por
conhecer aquela região, eu me pergunto: como alguém pode destruir essa
preciosidade?
Eu
tenho medo desse mar de lama que assola nossas vidas, enquanto pessoas digladiam
nas redes com: “medir dor”, “competição de tragédia”. Não percebem a
grandiosidade disso tudo. Serão pessoas tentando se refazer por décadas por
cada uma dessas catástrofes. Serão animais extintos, leitos de rios que nunca
mais serão os mesmos, famílias que se acabaram. É algo que afeta e atinge a
TODOS, em diversas esferas. Estamos dispostos num rastro de terror e desespero,
todos os dias.
O
mais deprimente é que aqueles que se mostraram sensibilizados por Paris ou
Mariana, pouquíssimos transformaram isso em atos ou atitudes. Gestos virtuais
são apenas para ‘inglês ver’, mas mesmo assim culpam Deus, que nem na tragédia
do Éden pôde atentar contra a liberdade da criatura.
Juliana Soledade
Crônica produzida para o Jornal A Região, publicada no dia 21 de Novembro de 2015.
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