Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

5 de setembro de 2015

Overdose de emoções


Era para ser mais uma roupa no armário. Mesmo que escolhida carinhosamente na boutique, jamais haveria possibilidade de imaginar as boas sensações que adviriam daquela peça: era um vestido que tinha superpoderes, sobre quem vestia e quem admirava. Um tubinho preto, que parecia ter sido feito sob encomenda e disposto a vácuo nas minhas curvas.



Deveria ser mais um sapato comprado impulsivamente, mas não; foi escolhido, desejado e encomendado. Foi calçada naquele sapato, com os pés alinhados no altar, que eu disse sim, querendo dizer não. Ao encontrá-lo, em meio aos mais de cem pares, minha feição mudou. Com as feições alteradas, qual carranca de barco, protegi o “quase-despacho” em sua própria caixa e tornei a escondê-lo. Uma hora dessas eu abandono n’alguma encruzilhada. Não falta coragem, só vergonha, eu garanto.

Era para ser apenas uma mala, mas ao tirá-la de dentro do guarda-roupa a propósito de mais uma aventura, sorri e precisei sentar na beira da cama, instantaneamente. Inundada de lembranças, mergulhei nos embarques e desembarques, nas esperas: do próximo vôo, das placas, flores e sorrisos que me aguardavam. Na ida ou na vinda, havia quem tomasse a mala de minhas mãos e levasse rumo a um veículo, consequentemente, a novos destinos e novas vivências memoráveis.

Interrompida pelo celular sinalizando uma nova mensagem, engrenei em novas recordações, e abri outras portas do meu armário. Encontrei presentes esquecidos propositalmente: um conjunto de joias fora do lugar, perfumes que me conduziram a tantos outros lugares, sem mover sequer os pés. Encontrei um segredo no fundo da terceira gaveta, uma pétala da última rosa, tickets de museu, e ingressos de alguns shows que afirmei que iria, mas desisti em cima da hora. Encontrei um livro que eu escondi, algumas moedas e um kit novo de maquiagem que sequer lembrava haver adquirido.

Não explico como cabe tanta história num único armário, só garanto que sim, cabe. O meu tem cheiro de respeito, de promessas cumpridas, de coração refeito. Alguns itens carregam múltiplas emoções, outros são vazios de fazer pena. Os que porventura não têm histórias, ainda terão.

Ainda inebriada, voltei para o vestido e me senti satisfeita com os efeitos secundários: as lembranças e o perfume carimbado do outro para as próximas horas, um suspiro malicioso e uma vontade descomedida de voltar no tempo, ter o olhar direcionado e os beijos surreais de novela, novamente.


- La vie la vie.

Juliana Soledade

Crônica produzida para o Jornal A Região de 05 de Setembro de 2015.

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