Nasceu? Corre para registrar, e aviso, precisa do documento dos pais, e da declaração do parto. Vacinar? Leva o cartão de vacinas e prepara o remedinho, porque vai ter febre. Vai estudar? Tem fardamento, mochila, quatro fotos 3x4, uma lista imensa de materiais, e lanche saudável todo santo dia.
Ao entrar no avião a comissária informa sobre o cinto de segurança, os avisos luminosos das saídas de emergência e as máscaras de oxigênio que cairão automaticamente. No exame de sangue, o jejum. Na cozinha oriental, o sushiman, o peixe cru e o saquê. No vinho, a temperatura ideal.
Os mandamentos parecem não ter fim, começam pela bíblia e seguem no abrir de olhos toda manhã. No júri a toga e o malhete. No circo, o picadeiro. As alianças, no casamento. Para a reunião de trabalho, infindáveis protocolos. Vestido de festa combina com bolsa de mão e sapato alto com pés doloridos.
Soa estranho fazer barulho no cinema, do mesmo jeito que entrar sem pipoca. Dá pra imaginar o pódio da Fórmula 1 sem o tradicional champanhe? É como o lápis sem cor e a matemática sem a regra de três.
Até o romantismo não dispensa a sua formalidade, SMS desequilibradas e apaixonadas, juras de amor, flores em tons quentes, e beijos de novela. O juiz precisa receber a petição com “Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito”, o médico precisa ser chamada de doutor sem nunca ter cursado um doutorado, assim como o juiz; antes do P e B se escreve M.
Regras para usar o milagroso gel anticelulite, para escutar sobre as reformas políticas que nunca vão existir. Um ritual para ler a revista e outro para o jornal. Um protocolo a ser cumprido nas mentiras ditas das promessas eleitorais.
A presidente cria suas regras com o português, ops, presidenta. O soldado bate continência como saudação militar. O celular tal qual cartão de débito precisa de senha e o cheque acima de cem deve ser nominal. O remédio precisa ser administrado conforme a receita.
As formalidades se esvaziam no sexo, sem por favor, obrigado ou volte sempre, sem regras, etiquetas ou requisitos. O sexo é livre. Não pera, o beijo, o carinho e gozo são obrigatórios, mas sem predefinições ou ordens delimitadas. Pelo menos aqui o céu é o limite.
Juliana Soledade
Foto: Mariana Lisboa |