A primeira vez que o amor rangeu os
dentes em minha direção eu não me movi. Era platônico, diga-se de passagem,
tinha dois anos a menos que quinze. Escondia minhas paixões dentro dos
cadernos, com nomes desenhados no interior de corações e olhares envergonhados.
Sempre descontrolada no rubor das bochechas e os batimentos descompassados
quando o moço surgia em minha direção.
Aliás, foram tantos amores secretos que
começaram no colégio e invadiram o trajeto de minha existência, que ao tentar
enumerar, perdi as contas. Creio que nasci mergulhada no amor, como quem enfia
a cabeça inteira dentro da água sem medo de morrer afogado, é bem óbvio que eu
morri afogada algumas vezes. Renascia afirmando que nunca mais amaria alguém,
me enganei. Sigo fomentando amores, seja para a criação literária, seja para partilhar
vivências, ou na melhor das hipóteses para declarar paz as minhas inquietudes.
Encontrei amores inesquecíveis e
paixões arrebatadoras pelo caminho, fiz juras eternas em noites de lua cheia
que se acabaram no raiar do dia. Já tive amores como uma vela, em que a chama
durou apenas enquanto havia parafina. Já tive amores escondidos. Já dispensei a
obrigatoriedade das promessas e das cartas na mesa, das alianças e
formalidades.
Nada pra mim é tão apocalíptico quanto
o amor. Ele é como um corpo com hormônios desequilibrados, capaz de mover
montanhas, de ter comportamentos passionais, ou proteger dentro de um abraço como
pérolas raras.
Esqueça esses amores eternos,
infindáveis. Amor acaba e não tem nada de errado nisso. Podemos ser mutações
silenciosas ou transformações barulhentas. Tudo é relativo, assim como o amor.
E não, não tentem limitar o alcance da paixão, do amor ou do desejo, tudo isso
está na mesma embarcação.
Quando ele se desfaz, travamos batalhas
internas homéricas, remoemos rejeições, mastigamos desfeitas, engolimos uma
ilusão insustentável. E o ego fica em busca de conexões significativas,
lambendo as feridas sem encontrar razões ou motivos plausíveis, até encontrar o
próximo e tudo começar mais uma vez.
E eu penso que deve haver alguma
espécie de sentido para essa avalanche desgovernada que atinge em cheio, sem dó
nem piedade o peito dos flagelados e com pouca esperança do futuro.
Deve existir um lado depois dessa
camada de pele, como um universo pulsando por outra(s) vida(s), além da
identidade escancarada, uma dependência da pele, do cheiro, da voz, uma
explicação capaz de tranquilizar as mentes desassossegadas.
- O que virá depois do amor? – Eu
pergunto dois anos a mais que vinte e cinco, para salvar a alma ou me entregar
com carne e ossos ao prazer do vindouro.
Crônica produzida para o Jornal A Região, do dia 29 de Agosto de 2015.
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