Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

26 de setembro de 2015

Mães

Nasce uma mãe quando dois riscos no exame da farmácia sinalizam uma gravidez, confirmada pelo ultrassom com os primeiros batimentos cardíacos, a emoção apenas acumula, explodindo no primeiro choro do bebê.
Ao abrir de olhos no nascimento de um filho, nasce imediatamente uma empreiteira:
- Restaurante delivery, primeiros socorros e intuição aguçada. Um polvo, uma máquina de cafuné e nasce uma fortaleza.
Mãe perde o medo de baratas, morcegos e aranhas. São leões famintos prontos a serem desafiados. Se atiram frente aos dragões para a segurança do filho.
A criança poderia dormir diante uma febre de 40 graus, a mãe jamais dormiria. Sempre controlando a temperatura, a tosse ou um suspiro diferente no meio da noite.
Mãe consegue induzir tranquilamente a um filho saltar no meio do oceano sem proteção, a não ser a dela, é óbvio. Filhos abraçam suas mães depois da queda e com apenas um beijo curam as dores do universo.
Filhos podem dormir em outros cômodos, em outras casas, podem estar a milhares de quilômetros de distância. Mãe sempre sabe quando alguma coisa está errada ou no mínimo desconfia que o filho comeu Mc Donalds, quando deveria comer pão integral com suco sem gelo.
Mãe sente a dor como a carne cortando quando não consegue salvar um filho das mazelas do mundo. Como numa situação de emergência, sabe ser uma equipe numa só: médico, paramédico, enfermeiro e motorista.
Somente mãe consegue cantar em sequência e sem perder o ritmo as músicas da Xuxa, galinha pintadinha, Aline Barros e Peppa Pig. Conhece as falas dos personagens nos desenhos, reconhece o Patati e Patatá pela voz, e por mais que reclame prefere assistir junto com o filho. A certeza de que em pouco tempo nada disso mais fará parte do roteiro assusta.
- E os brinquedos são seguros? As mães pensam.
Enquanto os filhos gritam enlouquecidamente para se atirarem aos brinquedos mais perigosos.
Apesar de tudo, pensam que nunca estarão completamente prontas. Desconfiam da médica, do vento ou do sono no meio da tarde. Trabalham fora, cuidam da casa, das roupas e da comida. Preparam com afeto a cama e aprendem a rezar com toda a fé que nunca tiveram. Adormecem antes do previsto, choram escondidas no banho e saem sorrindo, como se nada tivesse acontecido.
Mães sempre sabem esfrangalhar o seu coração para suturar o do filho. Camuflam as suas dores com um largo sorriso, voltam a brincar de bonecas e carrinhos. Caem, se machucam, e se derretem com um beijo estalado.
A vida segue de um lado com um amor que escancara em forma miniatura, do outro uma mãe sempre exposta aos mais profundos sentidos, rigorosamente consciente do equilíbrio necessário, entre o medo e tentativa da inteireza da maternidade.


Juliana Soledade

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