Nasce uma mãe
quando dois riscos no exame da farmácia sinalizam uma gravidez, confirmada pelo
ultrassom com os primeiros batimentos cardíacos, a emoção apenas acumula,
explodindo no primeiro choro do bebê.
Ao abrir de
olhos no nascimento de um filho, nasce imediatamente uma empreiteira:
- Restaurante
delivery, primeiros socorros e intuição aguçada. Um polvo, uma máquina de
cafuné e nasce uma fortaleza.
Mãe perde o
medo de baratas, morcegos e aranhas. São leões famintos prontos a serem
desafiados. Se atiram frente aos dragões para a segurança do filho.
A criança poderia
dormir diante uma febre de 40 graus, a mãe jamais dormiria. Sempre controlando
a temperatura, a tosse ou um suspiro diferente no meio da noite.
Mãe consegue
induzir tranquilamente a um filho saltar no meio do oceano sem proteção, a não
ser a dela, é óbvio. Filhos abraçam suas mães depois da queda e com apenas um
beijo curam as dores do universo.
Filhos podem
dormir em outros cômodos, em outras casas, podem estar a milhares de
quilômetros de distância. Mãe sempre sabe quando alguma coisa está errada ou no
mínimo desconfia que o filho comeu Mc Donalds, quando deveria comer pão
integral com suco sem gelo.
Mãe sente a
dor como a carne cortando quando não consegue salvar um filho das mazelas do
mundo. Como numa situação de emergência, sabe ser uma equipe numa só: médico,
paramédico, enfermeiro e motorista.
Somente mãe
consegue cantar em sequência e sem perder o ritmo as músicas da Xuxa, galinha
pintadinha, Aline Barros e Peppa Pig. Conhece as falas dos personagens nos
desenhos, reconhece o Patati e Patatá pela voz, e por mais que reclame prefere
assistir junto com o filho. A certeza de que em pouco tempo nada disso mais
fará parte do roteiro assusta.
- E os
brinquedos são seguros? As mães pensam.
Enquanto os
filhos gritam enlouquecidamente para se atirarem aos brinquedos mais perigosos.
Apesar de
tudo, pensam que nunca estarão completamente prontas. Desconfiam da médica, do
vento ou do sono no meio da tarde. Trabalham fora, cuidam da casa, das roupas e
da comida. Preparam com afeto a cama e aprendem a rezar com toda a fé que nunca
tiveram. Adormecem antes do previsto, choram escondidas no banho e saem
sorrindo, como se nada tivesse acontecido.
Mães sempre
sabem esfrangalhar o seu coração para suturar o do filho. Camuflam as suas
dores com um largo sorriso, voltam a brincar de bonecas e carrinhos. Caem, se
machucam, e se derretem com um beijo estalado.
A vida segue de um lado com um amor que
escancara em forma miniatura, do outro uma mãe sempre exposta aos mais
profundos sentidos, rigorosamente
consciente do equilíbrio necessário, entre o medo e tentativa da inteireza da
maternidade.
Juliana Soledade