Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

22 de agosto de 2015

Ipês


Comecei a amar Ipês amarelos a partir Rubem Alves, nunca tinha lido alguém com tamanha doçura e cuidado para falar apenas de uma árvore. Mas não, nunca foram apenas árvores. Embarcava nas suas palavras como se enxergasse fotografias graciosas em minha mente.

Caminhando rumo a Catedral da Sé em São Paulo, Ipês arroxeados despontaram em minhas vistas, parei no meio do viaduto e fiquei a contemplar. Os carros com as suas buzinas estridentes e o barulho da hora do rush sumiram frente à tamanha beleza que “quase arromba a retina de quem vê”. Naquele momento eu sabia, havia sido contaminada por Rubem, ou por um dos seus amores.

Na rodovia 415 - Itabuna x Ilhéus no auge do inverno, contrariando a natureza, surgem alguns Ipês envergonhados do outro lado da margem, tê-los por perto é como sentir cócegas na alma. Doçura e ternura num só floreado, que me obrigam a acomodar no acostamento, oferecer um ato de agradecimento, e um “benza Deus”, pra ninguém por olhado.

Certa vez soube que na rodoviária de Curitiba tinha um frondoso Ipê amarelo. Numa das minhas aventuras em que a minha companhia foi a melhor parceira, liguei o GPS e “sem lenço ou documento”, fui à busca do que os meus olhos ansiavam. No instante inicial fiquei perdida no trânsito pelo espantoso desatino ao encontrá-lo, no momento seguinte busquei uma vaga no estacionamento como quem estava carregando uma doente para o hospital, tamanha era agonia. E creio que as pessoas, confinadas em suas prisões, deveriam supor que eu estava em completo desequilíbrio. Talvez elas tivessem razão, mas apenas olhei para o alto e enxerguei sua copa que alçava o céu límpido e brilhante. Estava enfeitiçada.

Outro dia quando estive em Colombo/PR me senti na obrigação de reverenciá-los, as ruas tomadas por um amarelo–ouro: sensível e delicado, como se um bom anfitrião tivesse feito florescer todos aqueles Ipês para aguardar a minha chegada. E, ao solicitar que parassem o veículo para que eu pudesse chegar ainda mais perto, entendi todos os sentimentos de Rubem, não são meros Ipês, nunca foram, é o sol que invade os olhos e irradia luz, fineza e vida pelo lado de dentro. Eu nunca mais fui a mesma depois que entreguei minhas orações em um robusto pé de Ipê amarelo. Frente a eles eu garanto, fico nua de palavras.

Recebo um cafuné todas as vezes que a Gaby Mozer encontra uma árvore florida, fotografa e envia com a mensagem “advinha para quem dedico esse Ipê?”, ou Flávia Antunes fazendo releituras do nosso encontro num inverno congelante, e por fim, Izolete que registra cada um dos que iluminam a sua existência, apenas para dizer “eu lembrei de você”.


Os Ipês merecem a obrigatoriedade do graúdo, como quem domina a própria vida num nome próprio, ignorando os asfaltos e a urbanidade. Eles, os Ipês, apenas dizem: inverno também é tempo para amar. Agora é tempo de florir, ou os ipês estão florindo.


Crônica produzida para o Jornal A Região, do dia 22 de Agosto de 2015.

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Lindo, Ju. Realmente é apaixonante. Adorei a comparação com o Sol.

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