Comecei a amar Ipês amarelos
a partir Rubem Alves, nunca tinha lido alguém com tamanha doçura e cuidado para
falar apenas de uma árvore. Mas não, nunca foram apenas árvores. Embarcava nas
suas palavras como se enxergasse fotografias graciosas em minha mente.
Caminhando rumo a Catedral
da Sé em São Paulo, Ipês arroxeados despontaram em minhas vistas, parei no meio
do viaduto e fiquei a contemplar. Os carros com as suas buzinas estridentes e o
barulho da hora do rush sumiram
frente à tamanha beleza que “quase arromba a retina de quem vê”. Naquele
momento eu sabia, havia sido contaminada por Rubem, ou por um dos seus amores.
Na rodovia 415 - Itabuna x
Ilhéus no auge do inverno, contrariando a natureza, surgem alguns Ipês envergonhados
do outro lado da margem, tê-los por perto é como sentir cócegas na alma. Doçura
e ternura num só floreado, que me obrigam a acomodar no acostamento, oferecer
um ato de agradecimento, e um “benza Deus”, pra ninguém por olhado.
Certa vez soube que na
rodoviária de Curitiba tinha um frondoso Ipê amarelo. Numa das minhas aventuras
em que a minha companhia foi a melhor parceira, liguei o GPS e “sem lenço ou
documento”, fui à busca do que os meus olhos ansiavam. No instante inicial
fiquei perdida no trânsito pelo espantoso desatino ao encontrá-lo, no momento
seguinte busquei uma vaga no estacionamento como quem estava carregando uma
doente para o hospital, tamanha era agonia. E creio que as pessoas, confinadas
em suas prisões, deveriam supor que eu estava em completo desequilíbrio. Talvez
elas tivessem razão, mas apenas olhei para o alto e enxerguei sua copa que
alçava o céu límpido e brilhante. Estava enfeitiçada.
Outro dia quando estive em Colombo/PR
me senti na obrigação de reverenciá-los, as ruas tomadas por um amarelo–ouro:
sensível e delicado, como se um bom anfitrião tivesse feito florescer todos
aqueles Ipês para aguardar a minha chegada. E, ao solicitar que parassem o
veículo para que eu pudesse chegar ainda mais perto, entendi todos os
sentimentos de Rubem, não são meros Ipês, nunca foram, é o sol que invade os
olhos e irradia luz, fineza e vida pelo lado de dentro. Eu nunca mais fui a
mesma depois que entreguei minhas orações em um robusto pé de Ipê amarelo. Frente
a eles eu garanto, fico nua de palavras.
Recebo um cafuné todas as
vezes que a Gaby Mozer encontra uma árvore florida, fotografa e envia com a
mensagem “advinha para quem dedico esse Ipê?”, ou Flávia Antunes fazendo
releituras do nosso encontro num inverno congelante, e por fim, Izolete que
registra cada um dos que iluminam a sua existência, apenas para dizer “eu
lembrei de você”.
Os Ipês merecem a
obrigatoriedade do graúdo, como quem domina a própria vida num nome próprio,
ignorando os asfaltos e a urbanidade. Eles, os Ipês, apenas dizem: inverno
também é tempo para amar. Agora é tempo de florir, ou os ipês estão florindo.
Crônica produzida para o Jornal A Região, do dia 22 de Agosto de 2015.
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Juliana Soledade