Era criança e usava um
vestido zebrado, e sorria pela alegria de saber que ele crescia junto-com, mas
sem ter a menor ideia do que estava por vir. Quando o vestido virou uma blusa e
se transformou num trapo, fui obrigada a deixá-lo no canto. Ainda borralheira
sem prever qualquer dos passos do futuro.
Publicação realizada no Jornal A Região, em 15 de agosto de 2015 |
Minha fortuna não tinha cor,
mas tinha cheiro. O bairro Alto Maron me ofertava tudo o que uma criança desejava ter:
ladeiras para descer de patins, bicicleta ou carrinho de rolimã, uma turma animada
na mesma faixa de idade, tampões dos dedos dos pés abandonados pela rua, e
muitos vizinhos mal humorados que eu gostava de tiranizar.
Vestia vestidos rodados no
São João, alguns pegaram fogo na barra. Quando cresci, o fogo foi figurativo,
sem vestidos rodados, ele subia nas pernas. Gostava de fogueira, de banho chuva
no meio da rua e de arco-íris.
No período gestacional
coloquei a barriga para tomar sol, depois a filha, por fim o avô. Esse último
não merece a dor da morte, mas uma bela roupa de patchwork para continuar
colorindo a vida. E fica bonito quando me apodero do amor com saudade em roupas
coloridas.
Vejo minha filha crescer em
roupas agradáveis, minha e dela. Por vezes um delicioso vestido de algodão, ou
num pijama confortável para apresentá-la aos filmes clássicos. Não tenho
produção pré-definidas para escutar músicas, ou cantarolar: do banho à festa de
casamento, cada uma leva a sua necessidade.
A felicidade não se cansa de
vestir branco, se estiver com um sorriso incandescente, até preto se dá bem.
Encontrei o amor em duas oportunidades, estava de jeans confortável, já
era amor, não precisava ter marca de calcinha. Fiz retaliações com gosto de
vingança com minissaia e não me arrependo.
Escrevo admirando uma
mangueira plantada por mim na meninice, sorte a minha que a empresa escolheu o
local certo para ser minha, frente à cor, cheiro e sabor. Certa de que roupas são molduras de
experimentos e identificações; Paisagens é movimento; Palavras são roupagens
para uma história que não para...
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Juliana Soledade,
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