Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

13 de abril de 2015

Da entrega ao fim

Meu amado,

Possivelmente essa carta jamais chegue até suas mãos, mas caso atravesse os seus dedos é porque tinha que ser. Era preciso que você soubesse o que penso sobre a vida, sobre os encontros, sobre nós e os tantos desencontros, aquele que perdemos, ou o que tivemos. O quanto amamos sem rotular amor, e pior sem verdadeiramente viver esse amor de maneira completa e plena. Fizemos um bem mútuo, guardamos segredos por anos, do pouco e do tão intenso que partilhamos, mas tudo tão excepcional que valeu por toda a vida.

Mesmo aquilo que não vivemos, mas desejamos intensamente, tateamos ou sentimos, acabamos vivendo, mesmo que tenham sido em vidas completamente distintas e distantes. Aprendemos em outros mundos, sem qualquer percepção de nossos companheiros. Não quero que se amargure por isso, você foi o melhor dos impossíveis para mim. Um completo tesouro de afetos, que mal cabia em mim de tão precioso.

O que nos limitou foi uma vida limitada as nossas intensidades, contudo, vibrante a cada mensagem trocada. Éramos obrigados a registrar os olhares que não pudemos contemporizar, as vivencias que tínhamos prometidos, mas que escaparam como água entre nossos dedos. Senti falta de tatear seu corpo nas noites frias, falta do calor do beijo e do abraço, do toque tão másculo que me fez sentir viva, do diálogo sadio e produtivo, do riso farto e apaixonante e das 
suas memórias serenas que partilhou comigo.

Meu amor, vivemos sempre em vidas paralelas, mas amamos todos os nossos segundos dedicados um ao outro, somos mestres na entrega. Fizemos do nosso amor uma arte deliciosa, brotou com um simples toque e nunca se decifrou, quase que impossível ele se sustentou por anos com a mesma intensidade da primeira troca de olhares. Nos amamos com a grandeza de adultos conscientes.

Você foi tão atinado, permitiu que eu fosse sempre eu mesma. Soube derramar o seu amor e desejo sem nunca depender de mim, nunca se submeteu aos meus caprichos e nunca foi bajulador. Compreensivo e sem críticas, ao contrário, sempre tão incentivador. Tínhamos um lugar no espaço e no tempo de nosso sentimento e de emoção. Renunciei amores e tive a coragem de sofrer por minha decisão.

Querido, você foi um grande amor. Uma entrega completa em nossos encontros. Como a música ‘Elegante, fino e sincero’, sempre se destacou assim e foi a minha melhor poesia na figura de humana. Eu era o gesto, o barulho, a mulher completa, como chamada por você ‘do despojamento à sofisticação’. Uma relação integral. E por mais que tente definir quem fomos e somos, jamais conseguiria, éramos caviar, rapadura, música clássica ou rock, salsa ou bolero, terra e ar, água e fogo, éramos adaptáveis. Embora tão ambíguos, fomos paz, sem variações.

Pensar em te deixar me dói muito. Só de pensar fico aterrorizada. Mas, a vida, de repente ficou muito preciosa a ponto de continuar presa como uma terceira pessoa nessa relação. Abandonar um relacionamento que sempre foi um empate de afetos, nenhum dos dois amava demais, ou se entregava demais, fomos iguais, inteiros. Recebíamos amor diariamente, e expressávamos sempre com a mais louca intensidade em nossos encontros.

Peço que não mude jamais, seja da grande aventura à doce ventura. Ame quem o entenda, e quem mereça você quando eu terminar esta carta. Quero vê-lo feliz. Tenha sempre um segredo, assim como o nosso. Preserve essa mágica que abandona medos ou convicções. Cultive os momentos e a simplicidade. As lembranças são como um afago em nossa memória.

Não se lamente, mas reze por mim, para que eu me mantenha em paz. Tente com as suas forças fazer isso sem me procurar, necessito me desligar de você. Vivi intimamente emaranhada aos seus afetos. Agora é hora de acenar adeus. Preciso viver o próximo tempo na intensidade de um ciclone, sem me autodestruir. Acorde querido, o sonho está acabando, apesar de querer continuar sonhando em braços, eu não posso mais.

Seja você e seja feliz, aceite suas dores e tenha fé. Ame, como te amei em todos os dias. Preciso que entenda que esta carta é apenas uma memória em homenagem ao nosso amor. Escrevo apressadamente porque caso desapareça, posso não surgir novamente tão cedo.  


Guardo você aqui, bem no centro.



Márcia

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