Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

16 de dezembro de 2014

Para Maria

Não sabia como era segurar um recém-nascido no colo quando engravidei de minha menina. Não sabia me portar como uma grávida; não ia às filas preferenciais, não me incomodava com a barriga. Não sabia dos cuidados pré e pós-parto. Não dei importância aos internamentos emergenciais. Não sabia da importância de fazer um bebê arrotar após a mamada. Pior, não sabia nem como dar de mamar. Não sabia fazê-la dormir, o que me fez te levar no hospital aos berros.
Não me preparei psicologicamente para engravidar. Não esperei a hora, fiz a hora acontecer despreparadamente. Não descansei no dia em que nasceu por não poder permanecer ao meu lado. Desmaiei e quase morri de emoção quando a vi pela primeira vez, mobilizei médico e enfermeiros, enlouqueci a família.
Eu apenas era uma menina com 17 anos que pensava que filho não crescia. Uma menina que trocou a preocupação dos estudos com a de ninar uma princesa. De fazê-la suportar as batalhas necessárias de um início de vida como quem carrega maço de algodões.
Apresentei a vida e a morte, amores e desafetos. Apresentei o casamento e o divórcio. Apresentei o peso da dor e a leveza da alegria. Segurei-te no medo, mesmo estando com mais medo que você. Inúmeras vezes determinei que fosse forte, enquanto fragilizada escondia meus anseios. Dos momentos que estendi o meu braço e colhemos sangue juntas, apenas para lhe dar apoio. Escondi algumas lágrimas, outras te fiz beber do mesmo sofrimento.

Brindamos sorrisos, viagens, passagens, cafuné, sonhos, e diversas realizações. Anunciamos partidas, comemoramos chegadas. Dividimos travesseiros, cobertas e escovas. Emprestei minhas canetas para ver escrever com essa letra redondinha. Ensinei a ler e hoje anda palpitando sobre os livros da biblioteca. Calça meus sapatos de salto alto, põe colar, anel, passa batom, segura o celular numa mão, noutra a bolsa, apenas para reproduzir a mãe cheia de tarefas. Já chorei por não terem me concedido o direito de falar contigo ao telefone estando a milhares de quilômetros longe de você.
E hoje, minha pequena, quando te vejo cheia de planos e de responsabilidade, enalteço. Ver-te menina-bailarina, que me fez aprender a costurar as meias-calças na marra, a cuidar de cada uma das bolhas ou machucados que me apresenta, que me pede escalda-pés depois de um dia intenso de treinos. A mãe que se vira, pinta os sete mais que você só para te proporcionar as realização dos seus sonhos, uma mãe desvairada que chora, toma as dores e luta incessantemente pela razão e pelo seu bem, que é capaz de subir no mesmo palco que você para ajustar os canhões de luz em sua direção e vê-la brilhar.
Aprendi a ser pai, concedi o direito a outros de serem pais, sou mãe aos tropeços, por vezes irmã, na maioria dos momentos amiga. Sempre unidas, como se o cordão umbilical ainda estivesse ligado, mas hoje quem depende do alimento sou eu.
Confesso que rememorar é como tivesse ligado a máquina do tempo, e entre tantas variações de estágios pudemos partilhar de um elo que atrai distintamente, não somente é o sangue, é o amor.
Te amo minha sempre Maria.



Verão, 16 de Dezembro de 2014

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