Era uma sexta-feira
chuvosa, concluí os afazeres matinais e fui buscar a menina Maria na
escola,
depois de um final de semana agitado entre mar e piscina a garganta da pequena
reclamou um pouco, e lá se foram dois dias sem dormir direito e sem comer
também. Devidamente medicada com um remédio de embrulhar o estômago, na manhã
deixei animada na escola: tinha aula de Tio Luís, a educação física desde o meu
tempo de serelepe era a mais esperada. Com Tio Luís aprendi a brincar de baleado,
de atirar bolas na cesta do basquete, bandeirinha e cabo de guerra,
dificilmente escapava desta aula. Maria envereda pelo mesmo caminho.A foto foi no outro dia, sem chuva! |
Pois bem, o dia mesmo
em seu pé de água não tirava a minha vontade de ver o dia bonito, até o momento
em que cruzei o portão e delicadamente subia as escadas para buscar a danada
menina que navegava feito um avião com os bracinhos abertos pelo pátio
superior, sim na chuva, soltando gritinhos do tipo: uhuu!!!
Maria era a sensação,
outras coleguinhas admiravam a sua coragem, e diziam: - corre mais, Fernanda. E
Fernandinha corria, liberta, solta feito um passarinho que passou a sua vida
preso. Alegria durou pouco, a minha presença provocou uma aterrissagem de
emergência, e com os dedos acertadamente encaixados na orelha, uma ordem foi
dada: -pegue seu material e passe aqui!
Confesso eu quis
gargalhar, depois do puxão de orelha, fiquei imaginando o quanto minha mãe
suportou os meus aprontes. Enquanto Maria recebe elogios contínuos sobre a sua
conduta, minha mãe recebia reclamações diárias com direito a castigos
intermináveis de Tia Graça, de certo, era apenas quando ela me alcançava.
Enquanto dirigíamos ao
carro, ameaças surgiam, não era a bruxa má, mas era uma mãe brava que trocou
noites para monitorar o seu sono, e para buscar a todo custo uma medicação
compatível a sua dorzinha. Mas as ameaças cessaram, depois de dez minutos que
passamos dentro do carro pensando no errado que ela fez, desbravei o silêncio
perguntando: - A chuva estava boa?
De cabecinha baixa
ela responde: - Sim, mamãe, estava geladinha!
Queria ser criança,
queria ser estudante de primário, queria ser uma coleguinha de Maria, assim poderíamos
correr na chuva, com o vento no rosto, gritando e ouvindo a alegria a cada gota
chuva que pingasse em nosso corpo.
Vovô dizia: quem
herda não furta, nem degenera a raça. Vovô sempre teve razão!
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