Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

1 de novembro de 2014

Sentidos


Era uma sexta-feira chuvosa, concluí os afazeres matinais e fui buscar a menina Maria na
escola, depois de um final de semana agitado entre mar e piscina a garganta da pequena reclamou um pouco, e lá se foram dois dias sem dormir direito e sem comer também. Devidamente medicada com um remédio de embrulhar o estômago, na manhã deixei animada na escola: tinha aula de Tio Luís, a educação física desde o meu tempo de serelepe era a mais esperada. Com Tio Luís aprendi a brincar de baleado, de atirar bolas na cesta do basquete, bandeirinha e cabo de guerra, dificilmente escapava desta aula. Maria envereda pelo mesmo caminho.
A foto foi no outro dia, sem chuva!
Em dias chuvosos, as crianças não vão para o pátio, e sim em suas salas ou no corredor. O pátio não tem cobertura, em verdade nunca teve, e é esteticamente bonito pelas árvores, os canteiros bem tratados, as flores e a possibilidade dos alunos se sentirem fora da gaiola. Além de ser a terceira geração na mesma instituição de ensino, o ponto chave para matricular no início de sua vida escolar, foi justamente esse espaço interessante.
Pois bem, o dia mesmo em seu pé de água não tirava a minha vontade de ver o dia bonito, até o momento em que cruzei o portão e delicadamente subia as escadas para buscar a danada menina que navegava feito um avião com os bracinhos abertos pelo pátio superior, sim na chuva, soltando gritinhos do tipo: uhuu!!!
Maria era a sensação, outras coleguinhas admiravam a sua coragem, e diziam: - corre mais, Fernanda. E Fernandinha corria, liberta, solta feito um passarinho que passou a sua vida preso. Alegria durou pouco, a minha presença provocou uma aterrissagem de emergência, e com os dedos acertadamente encaixados na orelha, uma ordem foi dada: -pegue seu material e passe aqui!
Confesso eu quis gargalhar, depois do puxão de orelha, fiquei imaginando o quanto minha mãe suportou os meus aprontes. Enquanto Maria recebe elogios contínuos sobre a sua conduta, minha mãe recebia reclamações diárias com direito a castigos intermináveis de Tia Graça, de certo, era apenas quando ela me alcançava.
Enquanto dirigíamos ao carro, ameaças surgiam, não era a bruxa má, mas era uma mãe brava que trocou noites para monitorar o seu sono, e para buscar a todo custo uma medicação compatível a sua dorzinha. Mas as ameaças cessaram, depois de dez minutos que passamos dentro do carro pensando no errado que ela fez, desbravei o silêncio perguntando: - A chuva estava boa?
De cabecinha baixa ela responde: - Sim, mamãe, estava geladinha!
Queria ser criança, queria ser estudante de primário, queria ser uma coleguinha de Maria, assim poderíamos correr na chuva, com o vento no rosto, gritando e ouvindo a alegria a cada gota chuva que pingasse em nosso corpo.

Vovô dizia: quem herda não furta, nem degenera a raça.  Vovô sempre teve razão!

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