Outro
dia – um dia de sol, de primavera, com o ar impregnado de luz e maresia -, ele
chegou à porta daquela suíte de hotel com um andar atraente. Passos rápidos. E,
antes mesmo que entrasse, ela notou que algo o acendia. Não era o mesmo que
havia saído momentos mais cedo. Houve um choque ao se tocarem. Um abalo, um
verdadeiro rasgo na realidade.
Não
discerniam quaisquer palavras, o calor de um sussurro fez seu corpo ferver.
Como uma ordem seus olhos fecharam, ele pousou seus lábios no pescoço dela,
demonstrava vigor. A surpresa desse beijo – intenso, febril, criminoso, ao
mesmo tempo enfeitiçado, por vir de um estranho – era a força oportuna para
transformar seu dia.
Enquanto,
confusa, procurava uma resposta para essa sensação indecifrável, mais abalada
ficava, e sim, entregue para toda adrenalina que invadia sua matéria. Um
traiçoeiro lapso de tempo. Ali, junto as suas vontades, estava o homem, frente
as suas entregas. Nada havia nele incomum, sequer era sedutor, mas por algum motivo
o corpo dela se fixou nele. E, no mesmo instante, o homem atraído por toda
aquela beleza concedeu toda a sua febre.
Abrindo
os olhos, ergueu-se, as mãos ainda cravadas em suas costas, como um derradeiro
pedido de socorro. Ao encarar encontrou os olhos dele faiscando em tochas, idêntico
aos dela. Virou-se e vagarosamente foi entregue a tortura, um sangue ardente
correndo por todo o corpo – os dois – que agora se enlaçavam com mais firmeza.
Escorregou
suas mãos pelo dorso, subindo laçou no pescoço, tomando posse do que poderia
ser apenas mais uma erva daninha. Não havia mais retorno, tampouco
arrependimentos. Rendida, viu seus lábios – e seu corpo - a total entrega. Assim
mesmo, entre prazer e dor que se entregou ao proibido.
Cálidos,
extremamente cálidos com o suor quente porejando de seus corpos, num átimo.
Ele, homem impuro, estremeceu, o relógio já anunciava sua partida. Tascou-lhe o
último beijo achando que nunca mais iria encontrar. Errou, como em todas as outras
premonições.
Morro de São Paulo, 08 de Novembro de 2014.