A normalidade corria entre as
veias dela, uma vida inteiramente sobre controle, seja do marido, seja na permanência
educacional dos filhos, a vivência coerente e imprescindível de uma mulher que
dispõe de uma generosa aliança em seu dedo esquerdo.
Poderia continuar tudo nos moldes
esperados, senão fosse um número adicionado erroneamente no celular da jovem,
uma mensagem disparada pelo whatsaap
descontrolou todos os dias seguintes, uma paixão acidental espetou dois seres carente
de desvelo. O desgaste matrimonial, a falência progressiva do anelo foi apenas
a motivação necessária para o ciclo posterior, o impulso não esperado que se
tornou desejado e parte da memória de dois corações ensanguentados foi a razão
encontrada para os devaneios devidamente encravados na semiescuridão.
Não precisou de grandes
subterfúgios, alardeou internamente sobre o seu desejo voraz de tê-lo em seus
braços, tons sanguíneos latejantes forçava aquela vida. Alguns passos até o
carro, outros quilômetros para a materialização desse querer. Uma vida que
recebeu vitalidade de buscar o seu destino para além das regras de etiqueta, e
da existência terrena.
Um abalo traiçoeiro na troca de
beijos com lábios ávidos, sem juras de amor, sem vontade de mergulhar raízes
naquela outra pessoa, e apesar do horário devidamente calculado, apenas fruir
com prazer numa grande cama macia e delicada era o desejo de ambos. A cama os
recebia para o encaixe, sem serem abreviações, sem limites impostos, apenas
eles, nus, sedentos, como fogo ao vento, um incêndio apressado e necessário.
Fogo, tesão e querer, nada mais seguravam dois amantes.
Ao voltar, aliança no dedo, e um
cotidiano a cumprir, alimentando o copo de água antes que evapore por completo.
Porém, sem dúvidas, nada condiciona uma mulher, nem significâncias, nem irrelevâncias. Impecável somente o marido que
transitava pelo tempo.
Juliana Soledade
Primavera, 26 de Outubro de 2014