Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

26 de outubro de 2014

Carta na manga

A normalidade corria entre as veias dela, uma vida inteiramente sobre controle, seja do marido, seja na permanência educacional dos filhos, a vivência coerente e imprescindível de uma mulher que dispõe de uma generosa aliança em seu dedo esquerdo.

Poderia continuar tudo nos moldes esperados, senão fosse um número adicionado erroneamente no celular da jovem, uma mensagem disparada pelo whatsaap descontrolou todos os dias seguintes, uma paixão acidental espetou dois seres carente de desvelo. O desgaste matrimonial, a falência progressiva do anelo foi apenas a motivação necessária para o ciclo posterior, o impulso não esperado que se tornou desejado e parte da memória de dois corações ensanguentados foi a razão encontrada para os devaneios devidamente encravados na semiescuridão.

Não precisou de grandes subterfúgios, alardeou internamente sobre o seu desejo voraz de tê-lo em seus braços, tons sanguíneos latejantes forçava aquela vida. Alguns passos até o carro, outros quilômetros para a materialização desse querer. Uma vida que recebeu vitalidade de buscar o seu destino para além das regras de etiqueta, e da existência terrena.

Um abalo traiçoeiro na troca de beijos com lábios ávidos, sem juras de amor, sem vontade de mergulhar raízes naquela outra pessoa, e apesar do horário devidamente calculado, apenas fruir com prazer numa grande cama macia e delicada era o desejo de ambos. A cama os recebia para o encaixe, sem serem abreviações, sem limites impostos, apenas eles, nus, sedentos, como fogo ao vento, um incêndio apressado e necessário. Fogo, tesão e querer, nada mais seguravam dois amantes.  

Ao voltar, aliança no dedo, e um cotidiano a cumprir, alimentando o copo de água antes que evapore por completo. Porém, sem dúvidas, nada condiciona uma mulher, nem significâncias, nem irrelevâncias. Impecável somente o marido que transitava pelo tempo. 

Juliana Soledade

Primavera, 26 de Outubro de 2014

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