Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

7 de outubro de 2014

Apartamento


Reparou a primeira vez naquele apartamento quando atravessou a porta as quase três da manha, após um voo turbulento e complicado. Noutra vez, ignorou qualquer detalhe e preferiu que absolutamente nada ficasse registrado na memória.

Pelas cortinas entreabertas, conseguia ver a noite iluminada, banhada de pecado. Enquanto do lado de fora enaltecia pecado, as suas costas ardiam de desejos.

Imediatamente, começou a imaginar os minutos seguintes. Questionamentos prováveis de uma mulher sedenta, porém apenas um castigou os últimos dias: Como será o morador deste apartamento? Tentando decifrar, foi além ao visualizar os instrumentos aparentes, enxergou um músico apaixonado, alguém com mais de 40 anos, talvez sensível, talvez nem tanto. Poderia ser implicante com a empregada por não deixar a refeição preparada e logo depois ofertar um elogio, para que ela o perdoasse. Alguém que notoriamente vive sozinho – e feliz.

Mas uma voz fez um convite intimidador. Rompendo silêncios e alagando as suas dúvidas. Ela seguiu, apartando o imaginário perturbador.

Ele correu os dedos pela sua corrente, sentiu a textura fria do metal nobre, arrancou-lhe um beijo e atirou-a na cama repleta de travesseiros. Ávidos, apagaram as luzes, o breu foi um jogo indecifrável de prazer. Por minutos não sabiam o que dizer, palavras desconexas, incompletas. Transportados para outro mundo, flagrando-se, despertando-se zonzos de um eclipse.


Ao abrir os olhos, foram luzes. Luzes que se multiplicavam com intermitência, completamente irregulares. Todas as partes se atraíam, como polos negativos e positivos. Pontadas de inquietações agrediam o peito completamente entregue, assim como o corpo e a alma. A verdade é que, neste despertar sentiu um espetáculo desconhecido, inesquecível de tão hipnótico.


Ela sentou-se, esfregando os olhos. Ainda era madrugada. Aparentemente tudo estava em ordem, exceto as duas vidas que viraram de ponta cabeça em poucas horas.
Agora, fragmentos de memórias, diuturnamente mensagens que postas no sarcófago são relembradas e enterradas em seguida na capsula do tempo.

E, se isto não era tudo, haveria, ainda, o mar?

Primavera, 07 de Setembro de 2014

Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Postar um comentário