Uma troca de olhares e quatro frases reticentes bastaram
para a necessidade dos dias seguintes. Uma explosão de sensações perdidas, o
encontro de novos indícios, fortes e contundentes.
De sua cadeira, a mulher, que a tudo observa, suspira.
Tudo durou um momento, apenas. No instante seguinte via com tristeza o
resultado de suas escolhas. De um lado a sua salvação, do outro a sua
condenação. Em seguida, um mergulho, desaparecendo as suas ponderações
impertinentes.
A enorme mesa de madeira escura, enfeitada por uma
delicada orquídea, estava sempre coberta com livros, produções reais e noturnas
que orquestrava desde o chão impudico, até a candura do paraíso. E era ali que
a moça foi indispensável por muitos dias, entre tardes e noites que foram
alimentos de um incrível laboratório.
Precisou de um tempo para abandonar a penumbra. Só então
começou a perceber que as ranhuras eram maiores que os desenhos, grandes
imperfeições irreparáveis. Isso eram efeitos do observatório construído.
Daquele ponto, poderia identificar o avesso da vida: as ervas daninhas, encaixes
fragmentados, ponto de partida sem largada. Uma perfeita intimidade com seus segredos.
Ela piscou os olhos, atordoada.
Depois os abriu bem. E com surpresa, sorriu.
Um raio de sol incendiava o peito, despejando-se
completamente onde estava em súplicas. A luz, incidindo nos seus tecidos
atribuía novas cores ao seu redor, grãos de poeiras transformam-se em pássaros.
O pequeno mundo, outrora turvo – onde tudo insistia ser pelo avesso –
resplandecia.
É aurora.
Primavera - 2014
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