Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

2 de setembro de 2014

Urgentes

Ontem a tarde voltaram a se ver. Elegante, como de costume e, discreto em seu cinto de segurança. A sua camisa de botão quadriculada com cores leves estava impecavelmente bem passada. Já a calça jeans escura contrastava com a pele clara. No rosto, um óculos que o deixava intelectualmente mais bonito e não permitia esconder o par de contas azuis daquele olhar.
Há muito não se viam. Mas sempre que se encontravam renovava-se o impacto. E, desta vez, mais ainda – porque era a consumação dos sonhos alimentados por meses, por ambos.
A menina proibida, com sua paixão secreta, delírio e loucura de noites insones. Era ela, que com a garganta fechada atravessou estados para esse encontro. Neste dia, se perdeu no caminho, acelerou os passos, pegou um metrô lotado, fez baldeação e foi incapaz de aguardar o curso normal das escadas rolantes. Ela aguardava aquele momento como se fosse o ultimo pedido do gênio da lâmpada.
Deu o  primeiro passo rumo ao carro que a aguardava, sabia dos perigos. Seus pés gemiam a cada passo. Respirou fundo e quase flutuando entrou no veículo. Sabia que, dali em diante não seria mais os mesmos.
As palavras trocadas frente ao ar frio do ar condicionado eram permanentes sussurros, olhares perplexos de desejo e anelo, a pergunta feita por ele foi surpreendida pela resposta rápida e direta:
- Para onde vamos?
- O motel mais próximo, por favor!
O carro parecia mais acelerado, igual a respiração. Asa mãos tocando as pernas do rapaz o deixou levemente inconsciente no trânsito, recebendo sinalizações sonoras de outros veículos. Não havia muito que escolher, no primeiro luminoso avistado a seta à direta foi acionada.
Entraram e a partir dali decidiram serem um até o momento de cruzar a porta novamente. E foram, soltaram as amarras e se entregaram aos beijos cálidos. Realizaram as promessas, ela permitiu que ele fosse o seu novo dono. Sozinhos, numa bolha de lascívia eternizaram amor, sorveram pecados e foram deuses de seus espinhos. O corpo e o rosto eram quentes, como brasas acesas. Fascinados, debruçaram na urgência, foram urgentes. Foram um.
Num instante seguinte os corpos começam a se abandonar, fazia parte do acordo. A silhueta vista entre as luzes que se mexiam, começou a ser a ser cortinada. A lucidez que se prepara para o retorno se junta ao sentimento faminto.

E, afastando-se do carro que o levou para as melhores sensações, ela suspira, sem tristeza. Apenas consciente – mais do que nunca – da sua própria individualidade (e felicidade). 
Na madrugada, em que ainda paira no ar o cheiro de pecado, ela sorrir, pensando: - Naveguei, porque é preciso.



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