Ontem a tarde voltaram a se
ver. Elegante, como de costume e, discreto em seu cinto de segurança. A sua
camisa de botão quadriculada com cores leves estava impecavelmente bem passada.
Já a calça jeans escura contrastava com a pele clara. No rosto, um óculos que o
deixava intelectualmente mais bonito e não permitia esconder o par de contas
azuis daquele olhar.
Há muito não se viam. Mas
sempre que se encontravam renovava-se o impacto. E, desta vez, mais ainda –
porque era a consumação dos sonhos alimentados por meses, por ambos.
A menina proibida, com sua
paixão secreta, delírio e loucura de noites insones. Era ela, que com a
garganta fechada atravessou estados para esse encontro. Neste dia, se perdeu no
caminho, acelerou os passos, pegou um metrô lotado, fez baldeação e foi incapaz
de aguardar o curso normal das escadas rolantes. Ela aguardava aquele momento
como se fosse o ultimo pedido do gênio da lâmpada.
Deu o primeiro passo rumo ao carro que a aguardava,
sabia dos perigos. Seus pés gemiam a cada passo. Respirou fundo e quase
flutuando entrou no veículo. Sabia que, dali em diante não seria mais os
mesmos.

- Para onde vamos?
- O motel mais próximo, por
favor!
O carro parecia mais
acelerado, igual a respiração. Asa mãos tocando as pernas do rapaz o deixou
levemente inconsciente no trânsito, recebendo sinalizações sonoras de outros
veículos. Não havia muito que escolher, no primeiro luminoso avistado a seta à
direta foi acionada.
Entraram e a partir dali
decidiram serem um até o momento de cruzar a porta novamente. E foram, soltaram
as amarras e se entregaram aos beijos cálidos. Realizaram as promessas, ela
permitiu que ele fosse o seu novo dono. Sozinhos, numa bolha de lascívia eternizaram
amor, sorveram pecados e foram deuses de seus espinhos. O corpo e o rosto eram
quentes, como brasas acesas. Fascinados, debruçaram na urgência, foram urgentes.
Foram um.
Num instante seguinte os
corpos começam a se abandonar, fazia parte do acordo. A silhueta vista entre as
luzes que se mexiam, começou a ser a ser cortinada. A lucidez que se prepara
para o retorno se junta ao sentimento faminto.
E, afastando-se do carro que
o levou para as melhores sensações, ela suspira, sem tristeza. Apenas
consciente – mais do que nunca – da sua própria individualidade (e felicidade).
Na madrugada, em que ainda paira no ar o cheiro de pecado, ela sorrir, pensando:
- Naveguei, porque é preciso.