Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

4 de setembro de 2014

Inquietos

Era um rapaz tímido. Bastante tímido. Falava pouco e, quando o fazia, era como um anjo a sussurrar. As palavras vinham sempre acompanhadas de doçuras. Como se o rapaz, ao invés de falar, suspirasse. 
Foi um momento, apenas. Mas a cena do encontro e reencontro atormentava a mente da moça. Passava das duas da tarde, o céu limpo e poucas nuvens no céu convidava para um encontro mais intimista, aquele marcado às pressas. Em menos de uma semana, novas passagens e novos destinos. “o que o amor súbito não faz”, pensou ela.

Como quem encara o medo sem muito espanto, desceu do avião e sem paciência catou a mala pesada, regada de intensidade, localizou quem segurava uma placa com o seu nome e pulou na porta do aeroporto. 
Era ele, dono dos desejos mais importantes que já tivera, aguardava a garota sorridente. De felicidade saltitava no trajeto da porta de saída até o carro. Sim, era felicidade. 

Não tinham tempo a perder, somente a ganhar. As árvores, as pistas tão bem sinalizadas, as pessoas a caminhar, tudo parecem flutuar numa nova dimensão. E era essa paisagem que seguiu os momentos a diante, para dentro do vidro do carro, uma fotografia e uma deliciosa ortografia a bailar. 

O motorista já sabia o destino, no banco traseiro os dois, que a cada encontro são apenas um. O ar refrigerado inundava o veículo de uma atmosfera fria, que as mãos quentes deixaram o calor invadir de outro modo. E, no CD Player, ligado suavemente, um piano dedilhava com doçura, uma melodia contagiante. 

Os momentos seguintes foram impresso com a clareza, a loucura que se descortinava frente de ambos. Os sentidos captavam sons íntimos, a pele era banhada de segredos tão deles que eram bálsamos de luz. Sem timidez, se encaravam nus, como humanos sedentos um do outro. 

A delicadeza do instante contaminava os beijos pervertidos. As mãos instintivamente tinham obrigações a cumprir. E, aquela porta fechava indicava a beleza e inquietude para a vida ali dentro. Gritos, promessas e gozo. 

Eram eles, que segurando o tridente do diabo, foram pecado. Como tudo de mais perfeito, uma luz excepcional, uma luminosidade quase branca, leitosa, se dispersou sobre a paisagem transformando-o aquele luxuoso quarto de hotel no melhor cartão postal. 

Olhando calmamente os seus rostos, já recompostos, refletiram, por um instante. Não acreditavam como haviam sucumbido e se recusado em tempos anteriores. Por trás de toda submissão, eram majestades de suas entregas e desejos. 

Já com roupa no corpo, ela deixou o seu melhor sorriso e, seguiu com o brilho nos olhos, denunciando-a. No fundo todos sabiam que a sua inquietude não divide a sanidade e loucura.   

BSB, 3 de Setembro de 2014.

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