A culpa inicial é do final de
ano, do carnaval e da semana santa, logo em seguida os finais de semana e happy hour são os indiciados, porém a devastação
conclui-se quando todos os dias da semana são palco para a farra da comilança.
Um dia para a confraternização, outro para uma visita inesperada, outro para
uma despedida, o almoço acompanhada, o jantar irrecusável e quando se percebe a
cara de bolacha está intacta e precisa para todos.
O alarde para a necessidade do
regime constitui-se no comentário sem graça do marido/namorado, a gozação da ‘amiga’,
mas a tristeza derradeira apresenta-se na calça três números a mais, ou com o
vestido GG que não fecha, ou então aquela negativa de que não tem uma roupa que
lhe caiba naquela loja. O remorso perdura na frente do espelho, a materialização
humanizada de ‘Free Willy’ espelhada.
Quando a gente engorda
demasiadamente, temos uma vontade medíocre de se castigar. Um regime desproporcional
e assassino, parecendo até justo ao gordo flagelado. O desejo do gordo é ter o
corpo de escultural em uma semana. Cabe dieta da sopa, dietas de modinhas, da
USP, de capa de revista, cabe passar fome, inventar segundas-feiras para
iniciar a nova dieta, comer escondido e fingir a si mesmo que o pedaço de pizza
devorado era na verdade uma linda maça argentina. E a nova dieta será
abandonada tão rápido quanto foi iniciada.
Quando a balança só faz subir o
gordinho culpa a tireoide, o anticoncepcional, o inchaço, mas sequer assume que
come feito um aspirador de pó: devorando o lanche do colega, as sobras do
almoço do filho, aceitando a sobremesa pela terceira vez e regando os jantares
a massas, feijoadas e aos rodízios na churrascaria.
A cada nova tentativa de regime,
ecoa a pergunta desencorajadora:
- Vai fazer regime justamente
agora? – Qualquer argumento para o gordo é válido, recusa a dieta e aceita o
chocolate.
E quando um ex-gordinho aponta a silhueta
mais saudável, incrimina-se a redução de estômago, o remédio inibidor de apetite
e ansiedade, a erva milagrosa. A capacidade de aceitação pelo outro do
bom-senso é inócua, reeducação alimentar cumulada com atividades físicas e uma
porção de boa vontade, é possível.
Todo Ano-Novo é unânime a
promessa para emagrecer. Até que não precisa queixa-se. O arrependimento pós-virada
de ano é tradição. Penalizados, insistimos numa mudança que não chega
facilmente, e o descontrole torna-se natural.
As capas de revista, os artistas,
o mundo conspirando e motivando ao corpo perfeito. O abdômen com gominhos, a bunda
empinada, as pernas torneadas e os músculos perfeitamente definidos, imposições
notórias, basta acessar qualquer meio de comunicação.
Saber conformar ou repensar nos
10 quilos a mais? O prazer do gordo é comer. O prazer é insanamente gordo.