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Lá no nosso cantinho, com o nosso
jeito, conversávamos e nos entendíamos muito, falávamos dos nossos filhos, da
politicagem, da violência e das especulações como plano de fundo. Por outras tantas
vezes sequer trocávamos uma palavra, atravessávamos cidades em silêncio, não
era o que mais apreciava nele, as vozes de nossos diálogos me faziam bem. Ele
gostava de mexer em meus cabelos, de fazer cafuné lentamente, mexendo com os
meus instintos lânguidos, eu gostava, me rendia aos encantos, ficávamos na cama
de casal, onde tinha uma janela colorida, ou no sofá da sala, prostrados, com a
cabeça em seu colo para ter o seu carinho, em mim ou nele, sentindo as pontas
dos dedos massageando meu corpo, por vezes roçava o seu rosto no meu,
apreciando uma coceirinha maliciosa, aliciando uma urgência infindável, desmedida,
descabida de tão aprazível. Raros momentos como estes, em dueto, olhos nos
olhos, sem discurso, não havia incoerência ou contradição, não havia nada além
da expressão de arte de nós dois. Eu me despejava naquele carinho, no toque, me
desenganava completamente entre o afago e o beijo...
Itabuna, 5 de Novembro 13
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