Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

31 de julho de 2013

A-deus

Ela entrou naquele carro com esperança de ser feliz. Havia sombras no caminho, folhagens, e visões que remetiam ao passado. A aurora de uma nova cidade adiante surgiu para espantar os fantasmas que a cercavam.
A condição irreparável do passado de lidar com os medos, fraquezas e dúvidas é cruel, mas progressiva com a presença de outro alguém. Uma imensidão de sentimentos se mesclam, se envolvem e de tão unidos se tornam únicos, levando ao infinito labirinto, ao espiral viciante.

Os diferentes se completavam: ele era a cura para o câncer e ela, os três desejos da lâmpada de Aladim, tudo em um. Ela era livro e ele, cinema. Ele era rio e ela, mar. Ele o silêncio e ela, palavras. Formava-se um mosaico como papel de parede, uma colcha de retalhos minúsculos em várias poses.

As diferenças, ao longo dos dias, foram abrasadas, as promessas de ‘que até a morte nos separe’, abandonadas, o corpo anunciava o ponto de ruptura, a mente embranquecia, as emoções que antes eram tão acaloradas, estão dispersas ao vento. A variedade poderia ter sido o tempero da vida.

O silêncio segue em busca de sua própria libertação, mesmo diante de tantos resmungos, tentando interromper os pensamentos retrógrados. As palavras que antes foram ditas tornaram-se imortais, machucando, torturando, fazendo morrer mil mortes nos últimos dias.

O amor foi sendo renunciado lentamente, o coração foi esvaziando, a esperança da felicidade passou a não existir, para ela ficou claro: está proibido tocar nesse assunto. Difícil de produzir sozinha em um monólogo sem poder invadir a privacidade alheia, não conhecendo mais os seus olhos ou sorrisos, se é que eles ainda existem.

A empatia rubro foi despedaçada, o coração deu uma guinada para a garganta acenando o último adeus, de tantos já sinalizados. Não havia mais dois para dançar tango, nem duas ervilhas numa mesma vargem, não havia mais nada: nem chão nem escada, escudo ou espada...

Ela pensava em futuro, ele pensava apenas no instante. Ela abandonou o presente e voltou a sonhar no futuro. Sozinha, apenas.


Juliana Soledade
Itabuna/BA, 30 de julho de 2013

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