As palavras ríspidas em alto som invadiram os ouvidos daquela moça, que sequer foi capaz de responder à altura. Dando de ombros, em passos largos se dirigiu até o último cômodo, adentrando o banheiro e lançando-se à água quente do chuveiro, numa tentativa vã de enxugar as lágrimas que insistiam em cair.
Vestindo os seus trajes de dormir, perfumou-se, escovou os dentes, penteou o cabelo, e ao mirar o espelho, parecia enxergar uma desconhecida. Cada gota salgada que se precipitava de seus olhos, fora devidamente acolhida pela acolchoada toalha branca.
A cama – desorganizada com livros, canetas e roupas – foi sua companhia nas horas seguintes, o travesseiro acolheu a dor que ela sentia. Aquelas palavras ásperas despertaram uma dor íntima nunca sentida.
A janela aberta foi incapaz de enviar qualquer brisa para acalentá-la, o choro permaneceu até ser dominado pelo sono agitado e impreciso. Muito antes da aurora, despertada pelo calor deixado pela febre emocional, os pés aterrissaram ao chão; ali iniciou o processo de abandono dos sonhos feitos ao longo dos últimos dias, desacreditando as promessas, o amor e a vida a dois que um dia poderia existir.
Ela não mais queria as escovas de dente unidas, recolheu os tantos objetos íntimos em seu guarda-roupa, removeu seu travesseiro na cama, retirou seus livros da mesa de estudo, os sapatos espalhados, a fotografia presenteada, as poesias ofertadas, guardou o amor no bolso e partiu sem querer olhar para trás.
Vida que segue
Juliana Soledade
Itabuna/BA, 15 de Abril de 2013