Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

23 de junho de 2011

O passado que não se passa.

E um dia que se comemora tanta coisa, é São João. Eu entre os meus botões, entre lágrimas, dor, saudade.. ah saudade, porque me mata assim? Gradativamente eu sinto, cada vez mais aquele adeus que eu não pude dar, aquele abraço que eu queria ter certeza de que era o ultimo, como eu queria lhe dizer eu te amo com toda a força dos meus pulmões antes do seu ultimo suspiro, como eu queria saber que definitivamente seria a ultima vez em que acarinhava as suas mãos e apertar dedo por dedo, sentindo a flacidez, bagunçar os seus finos cabelos brancos.
Sei que está aqui no céu, nessa imensidão, mas porque não me responde? Vô, meu Vô, acena daí pra mim? Conforta-me, me afaga, diz repetidamente que eu sou o seu amor, até cansar, até ficar irritado com as minhas perguntas insistidas.
Um tempo depois que o Senhor deu esse zig em nós, eu disse que iria rir ao invés de chorar, eu  sei, não é lagrima que quer de mim. Mas como é forte esse sentimento que me domina, esse sentimento de SAUDADE, em um momento desses noutros anos, estávamos beliscando a canjica, o amendoim, o milho assado, queimando dinheiro com aquelas bombas zuadentas, o cheiro de São João, a madeira queimando e eu no seu pé, conversando que nem a nega do leite, falando com os cotovelos como sempre e hoje São João não faz mais sentido, Seu João nem tem culpa nisso, a culpa ta em mim.
Meu Vô, faz um ano, o tempo voou, parece que passou rápido pra não sentir tanto, mas um ano que eu nunca pensei tanto em alguém, nunca chorei tanto em minha vida, até então não sabia o que era se esconder, desligar tudo, e chorar, chorar e chorar.
Certa vez vi uma frase que dizia: “Só se sofre por amor, quem não tem dinheiro pra beber.” Já tomei tanto porre pra esquecer esta dor, já passei por uma embriaguez letárgica bem longe de casa, entre muitas outras vezes que bebia pra dispersar essa saudade, mas não adiantou. Vinha à ressaca, uma sensação péssima... A de derrota. Parei de fazer isso, esse sentimento não merece isso.
Tenho saudade da sua proteção, sempre te chamei de rei, sereno, lindo, lindo, lindo... Só lembro de ter visto as suas lágrimas duas vezes, uma foi quando estava grávida e fui lhe contar, no auge dos meus 17 anos, sentei no teu colo, e contei, aquele abraço sincero, puro, a lágrima da homenagem que seria feita caso fosse um rebento: Jorge, não foi um menino, mas foi uma menina, sua primeira bisneta, Maria, que rima com um monte de coisas inventadas por ti. A segunda lágrima foi no hospital, a lágrima que eu não agüentei ver, não fui forte o suficiente para escutar o seu gemido de dor, fui tão fraca, que quando me vi estava na maca ao lado e depois rimos disso.
Sempre foi esse guerreiro todo, passou por tantos altos e baixos, mas sempre honesto sempre correto. Tenho o Senhor aqui, dentro do coração, vai estar enquanto houver vida, mas não posso lhe tocar, não posso pedir sua ajuda, não vou sentir mais as mãos tremulas acariciando meus cabelos de mulher, feito um menino. Meu Deus, como eu queria ouvir “Segue o seu caminho, não tenha medo, medo não existe, assim como a dor.”
Ai que saudade, que saudade , que saudade no mundo.
Estrela, estrela, estrela, brilha pra mim?

Juliana Soledade

Comentários
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1 comentários:

A sensação de perder quem muito viveu é dolorosa, porém é o curso da vida... devolver ao pó aquele sobre quem havia tanta expectativa, minha amiga querida, é dilacerante.

Não comparo dores, porque cada um sabe de si. Mas digo isso para que, no fundo do seu coração, você descubra um alento capaz de transformar a dor em saudade serena.

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