Viajar é a interminável
angústia de fazer e desfazer as malas. As minhas carregam histórias
imprevisíveis, desnorteantes e inesquecíveis.
Já tentei seguir fórmulas
para caber mais roupas ou sapatos, sempre algumas coisas ficam pelo caminho ou
em urgência compro outro um suporte para aguentar os devaneios capitalistas.
Elas saem para o
estrangeiro, para o frio ou calor, suportam nossos rompantes, nossos desavisos,
nossas lágrimas. Já usei minha mala como travesseiro. Já subimos pé ante pé em
avião, em ônibus e porta mala. Já sentiu areia de praia e pó de asfalto. Já tomamos
banho de chuva e já foi carregada por outras mãos.
Em meio aos passos surgiram pessoas e culturas entre minhas aterrissagens. E se minhas malas falassem dos reencontros, dos abraços e das quedas já levadas, teriam múltiplas histórias a contar. Elas quase sempre levam sorrisos e confianças, retornam com nostalgia e experiências.
Em meio aos passos surgiram pessoas e culturas entre minhas aterrissagens. E se minhas malas falassem dos reencontros, dos abraços e das quedas já levadas, teriam múltiplas histórias a contar. Elas quase sempre levam sorrisos e confianças, retornam com nostalgia e experiências.
Ao tornar de alguma
aventura, as malas sucessivamente pousam em meu quarto como se fossem uma
canção de Vinicius de Moraes: “é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é
a melhor coisa que existe.”. Para aguentar a saudade de quem ficou.
Não tem amor eterno com
namorado enquanto o suspense impera na esteira do aeroporto. Não existe desespero maior ao notar os
cadeados arrombados e a bagagem violada, acompanhado de duas certezas: choro
sincero e ação indenizatória.
Dói abandonar uma mala que
já viveu inúmeras histórias junto a nós, descartar apenas porque suas rodinhas
não funcionam como antes, ou a sua cor já não é mais do nosso agrado.
Viajar é o mesmo que
colecionar algumas moedas de ouro, se orgulhar de cada uma delas, e relembrar
apontando entre fotos e memórias do caminho percorrido. Viajar é criar expectativas,
é ficar frustrado com o sol do deserto do Saara ou a chuva não programada. É
rir dos perrengues, é rir dos exageros. É inventar uma viagem atrás da outra
para esquecer um amor, e regressar sem atingir o objetivo.
Viajar é libertar a alma, é
tirar cada peça de roupa da mala fazendo lembranças das coisas vividas. Mais do
que lembranças que uma mala carrega são os inúmeros souvernirs, chocolates, especiarias e confianças. Chegamos sabendo
exatamente onde regressar.
Juliana Soledade
Crônica publicada no Jornal A Região no dia 06 de Agosto de 2016.
Categorias: Agosto, crônica, Jornal, Juliana Soledade, viagem