Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

6 de agosto de 2016

Sobre malas

Viajar é a interminável angústia de fazer e desfazer as malas. As minhas carregam histórias imprevisíveis, desnorteantes e inesquecíveis.
Já tentei seguir fórmulas para caber mais roupas ou sapatos, sempre algumas coisas ficam pelo caminho ou em urgência compro outro um suporte para aguentar os devaneios capitalistas.
Elas saem para o estrangeiro, para o frio ou calor, suportam nossos rompantes, nossos desavisos, nossas lágrimas. Já usei minha mala como travesseiro. Já subimos pé ante pé em avião, em ônibus e porta mala. Já sentiu areia de praia e pó de asfalto. Já tomamos banho de chuva e já foi carregada por outras mãos.
Em meio aos passos surgiram pessoas e culturas entre minhas aterrissagens.  E se minhas malas falassem dos reencontros, dos abraços e das quedas já levadas, teriam múltiplas histórias a contar. Elas quase sempre levam sorrisos e confianças, retornam com nostalgia e experiências. 
Ao tornar de alguma aventura, as malas sucessivamente pousam em meu quarto como se fossem uma canção de Vinicius de Moraes: “é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe.”. Para aguentar a saudade de quem ficou.
Não tem amor eterno com namorado enquanto o suspense impera na esteira do aeroporto.  Não existe desespero maior ao notar os cadeados arrombados e a bagagem violada, acompanhado de duas certezas: choro sincero e ação indenizatória.
Dói abandonar uma mala que já viveu inúmeras histórias junto a nós, descartar apenas porque suas rodinhas não funcionam como antes, ou a sua cor já não é mais do nosso agrado.
Viajar é o mesmo que colecionar algumas moedas de ouro, se orgulhar de cada uma delas, e relembrar apontando entre fotos e memórias do caminho percorrido. Viajar é criar expectativas, é ficar frustrado com o sol do deserto do Saara ou a chuva não programada. É rir dos perrengues, é rir dos exageros. É inventar uma viagem atrás da outra para esquecer um amor, e regressar sem atingir o objetivo.
Viajar é libertar a alma, é tirar cada peça de roupa da mala fazendo lembranças das coisas vividas. Mais do que lembranças que uma mala carrega são os inúmeros souvernirs, chocolates, especiarias e confianças. Chegamos sabendo exatamente onde regressar.

Juliana Soledade

Crônica publicada no Jornal A Região no dia 06 de Agosto de 2016.

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