Tia Fátima não se contentava em
carregar apenas os sobrinhos, unia os agregados como se fossem da mesma
família, sem distinção. Animação e ansiedade pouco nos deixava dormir, um
comichão invadia quando o dia entrava pela janela. Os preparativos também
começavam preliminarmente para que pudéssemos aproveitar o dia inteiro sem
surpresas desagradáveis.

Eu, munida de um lenço chamativo
amarrado na cabeça e um batom vermelho para encarar a meninice não passava
despercebida por ninguém. Os tios, primos, e a avó não concordavam com tamanha produção,
mas nada importava uma vez que os meus pais não estavam por perto. Era a figura
da vaidade inserida na criança.
A importância dessa tia animada sempre
foi traduzida em sorrisos e picolés, em festas majestosas com um pacote de
pipoca doce e no cuidado constante quando permanecíamos diante de sua
responsabilidade, poderia ser na festinha alheia, na lavagem do Senhor do
Bomfim, ou para resgatar as sobrinhas apreendidas pelo juizado de menor num
shopping.
Tudo sempre ocorria bem, não havia
mortos ou feridos, tampouco brigas ou confusões, nos entendíamos bem, com nosso
sarcasmo e carnavais fora de época, com ela a frase “o universo conspira a
favor de quem não conspira contra ninguém”, faz sentido.
Lenço bordô e os lábios sobressaltados
com vermelho encarnado garantem as lembranças pretéritas, singulares e
indivisíveis. Parece bem que existem qualidades que inerentes à pessoa, o tempo
se arrasta e se Tia Fátima queria registrar lembranças para o resto da vida,
ela conseguiu com êxito e louvor.
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