Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

9 de agosto de 2015

É Agosto


No final da década de 80 Papai tinha bigodes horríveis (e eu tinha certeza que ele roçava na barriga de minha mãe), eu nasci tendo que encarar esse rosto mimoso com um tufo imenso abaixo do nariz, ainda quando pequena ele insistia em aparar e manter aquela poluição facial, hoje rimos da modinha e das fotos épicas.

Painho sempre foi esbelto e distante, fala mais com os olhos e o corpo do que com a boca. Painho tem rodeios, mas também tem braços que acolhem e carinhos que acalentam. Ele sabe quando é hora ficar, sobretudo a hora de partir.

Eu invadi a sua vida sem pedir licença por duas vezes, a primeira foi no meu nascimento, a segunda no seu renascimento, uma pessoa-amor que me olhou com os dois olhos e com um coração que não tem tamanho de tão grande. Painho deu-me sobrenome referência, e uma família apaixonante. Painho me oferece os pés no chão a cada bate-papo e a confiança de voar em outras órbitas. Ele escuta Caetano Veloso enquanto eu me viro às avessas com Chico Buarque.

Poderia listar que somos tão parecidos como tanta gente diz, mas na verdade somos o elo com um acerte interessante. Esse paralelo é óbvio apenas porque aprendemos a caminhar no mesmo passo e compasso sem nunca ter levantado as guardas, ou ter declarado guerra.

Engana-se quem pensa que é preciso ter bases sólidas para desempenhar tão bem este personagem, ele, sem pai até no registro, soube desenvolver com maestria, alçado na escola da vida, entre pedras e tropeços, chegando ao auge com a catequização inicial da própria neta que tem como uma filha.

Eu nunca aprendi a confiar em meu pai. Eu nasci confiando, quando pequena eu chegava em casa arrebentada e ele cuidava dos machucados, depois do banho pedia que ele enxugasse as feridas. Depois de grande ele repetiu nos tantos cortes cirúrgicos, e soube cuidar melhor do que qualquer enfermeiro graduado, Bob como é chamado, tem delicadeza. A confiança apenas dilatou com o passar dos anos. Quem diria que seriamos sócios-amigos-cúmplices-parceiros de jornada? Bem, ninguém diria.

A delicadeza da vida se revela quando ele sabe fazer o papel ofertado, compartilhando afetos e referências, vibrando junto-com e alimentando sentimentos. Ele mostrou que pode ser pai, e me ensinou a ter a fortaleza de um pai. Mas eu acho mesmo que meu coração já batia por ele desde quando eu nadava na barriga de minha mãe.

Meu pai me ensinou - e ensina - que "A história fala dos heróis, a história fala dos vilões; a história só não fala dos omissos”. Eu tento aprender as lições nas entrelinhas.

Do alto, apenas gratidão! E um desejo de que o exercício da paternidade seja todos os dias a todos os pais. 

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