Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

28 de julho de 2015

Itabuna e eu

Era manhã de 13 de julho de 88 quando abri os olhos pela primeira vez no Hospital Manoel Novaes, neste dia a chuva molhou o cacau e o cheiro de barro subiu. Nasci no auge da riqueza sul baiana, onde estávamos no segundo lugar em produção do país, entre coronelismo e jagunços disfarçados, mal sabiam que no ano seguinte a vassoura-de-bruxa surgiria para devastar o império e o poder de muitos.

As muitas águas rolaram por baixo da ponte e carregaram lentamente a ilha do jegue a cada gota de desprezo derramada, a cada crise econômica, e em cada desgoverno assumido. Apesar de tudo, diversos investimentos acoplaram ao longo dos anos, transformando-a num polo médico, industrial, educacional e cultural.

Mãe de tantos, acolhendo e sendo desamparada. Destacada pela insegurança e abandono. Que por anos vive entre a UTI e o leito da Santa Casa de Misericórdia. A cada mandato, renovação de promessas, para no ano seguinte ser arrastada como as correntezas da enchente de 1967.

Jorge afirmava ser o cú do mundo, se referindo a Ferradas, local onde nasceu. Apesar da ridícula colocação foi daqui que saiu um escritor renomado internacionalmente, atraindo timidamente curiosos e pesquisadores, mas não para Itabuna e sim para Ilhéus. Jorge apesar de morto deixou uma vasta biblioteca a ser contemplada. Outros célebres como Jackson Costa nas telinhas, Perivaldo e Alan Bahia com a bola no pé, Carlos Santal com suas obras, Alinne Rosa no vocal. Terra de Orlando Cardoso e Cacá Ferreira, de Lordão e Vera Cruz, Do Katikero e Galo Vermelho, da irreverência do Caboclo Alencar e suas batidas, tudo fruto nosso, como um patrimônio indivisível, regados a muito cacau e dendê para ter sustância no mundo afora. E nossa Itabuna, se mantém revelando gente do bem em meio a uma vastidão de criminalidade, carrega o medo de uma viúva e a sem vergonhice de uma jovem, tudo em uma. Completas.

Nascida em 13 de julho, carregando a bagagem do curioso desde o abrir de olhos e a coragem saltando pelas mãos e pés mesmo que no primeiro choro. Destemida, porém assentada com alicerces profundos busco voos distantes retornando sempre ao berço. Saudando o Cachoeira e jogando panos frios no sangue quente que escorre nas madrugadas. E, talvez, vendo sóis onde não existe, assumo a identidade junto com a cultura misturada de arte e poesia, mitos e bizarrices. A evidência é ambiciosa, mas nunca ao reverso.


Juliana Soledade é graduanda de Direito e Teologia, pós graduanda de direito processual civil e prática trabalhista, escritora, empresária e blogueira.

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