Era manhã de 13 de
julho de 88 quando abri os olhos pela primeira vez no Hospital Manoel Novaes, neste
dia a chuva molhou o cacau e o cheiro de barro subiu. Nasci no auge da riqueza
sul baiana, onde estávamos no segundo lugar em produção do país, entre
coronelismo e jagunços disfarçados, mal sabiam que no ano seguinte a
vassoura-de-bruxa surgiria para devastar o império e o poder de muitos.
As muitas águas rolaram por baixo
da ponte e carregaram lentamente a ilha do jegue a cada gota de desprezo
derramada, a cada crise econômica, e em cada desgoverno assumido. Apesar de
tudo, diversos investimentos acoplaram ao longo dos anos, transformando-a num
polo médico, industrial, educacional e cultural.
Mãe de tantos, acolhendo e sendo desamparada.
Destacada pela insegurança e abandono. Que por anos vive entre a UTI e o leito
da Santa Casa de Misericórdia. A cada mandato, renovação de promessas, para no
ano seguinte ser arrastada como as correntezas da enchente de 1967.
Jorge afirmava ser o cú do mundo,
se referindo a Ferradas, local onde nasceu. Apesar da ridícula colocação foi
daqui que saiu um escritor renomado internacionalmente, atraindo timidamente
curiosos e pesquisadores, mas não para Itabuna e sim para Ilhéus. Jorge apesar
de morto deixou uma vasta biblioteca a ser contemplada. Outros célebres como
Jackson Costa nas telinhas, Perivaldo e Alan Bahia com a bola no pé, Carlos
Santal com suas obras, Alinne Rosa no vocal. Terra de Orlando Cardoso e Cacá Ferreira,
de Lordão e Vera Cruz, Do Katikero e Galo Vermelho, da irreverência do Caboclo
Alencar e suas batidas, tudo fruto nosso, como um patrimônio indivisível,
regados a muito cacau e dendê para ter sustância no mundo afora. E nossa
Itabuna, se mantém revelando gente do bem em meio a uma vastidão de
criminalidade, carrega o medo de uma viúva e a sem vergonhice de uma jovem,
tudo em uma. Completas.
Nascida em 13 de julho,
carregando a bagagem do curioso desde o abrir de olhos e a coragem saltando
pelas mãos e pés mesmo que no primeiro choro. Destemida, porém assentada com
alicerces profundos busco voos distantes retornando sempre ao berço. Saudando o
Cachoeira e jogando panos frios no sangue quente que escorre nas madrugadas. E,
talvez, vendo sóis onde não existe, assumo a identidade junto com a cultura
misturada de arte e poesia, mitos e bizarrices. A evidência é ambiciosa, mas
nunca ao reverso.
Juliana Soledade é graduanda de Direito e Teologia, pós graduanda de
direito processual civil e prática trabalhista, escritora, empresária e
blogueira.
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