João Miguel,
Tudo se modifica neste mundo. Aqui
estou eu no meio de minhas inquietações, completamente concentrada, escrevendo
para você. Depois do nosso último
encontro naquela rua escura da cidade às duas da manhã, sou outra mulher, ou
agora posso dizer que finalmente sou uma mulher. Senti por seus atos, palavras
convincentes e pelo seu corpo sensual, ativo e vibrante tudo aquilo que tem
para me oferecer.
A necessidade que tínhamos um do
outro era tão desesperadora que poucas palavras trocamos. Nossos corpos eram
capazes de responder a qualquer pergunta. Fizemos amor como dois alucinados,
pude te sentir inteiro. Em seus olhos uma imensidão de estrelas brilhantes. Consegui
vagar em seu fogo natural, enquanto transbordava você pedia mais. Com o nosso
prazer eu me sentia plena. Em cada momento que parecia que o meu corpo elevava.
Tocando-o, busquei os seus contornos e agora memorizo de olhos fechados.
Descobrimos a possibilidade de nos sentir vivos descobrindo o nosso prazer no
outro.
Sem medos e sem pudor. Somente amor.
A cada movimento lascivo, uma sensação esplendorosa. Os nossos pedaços se
uniram, não havendo distinção. O nosso amor nos transporta, porém a luxúria do
prazer alvoraçados dos nossos corpos nos levou a vivências indecifráveis. Lembramo-nos
de tudo, mesmo que de modo precário, nosso tempo se torna infinito. Agradamos nossas
matérias e naturezas sagradas.
É como se naquela insanidade
nunca estivéssemos tão sãos! Queríamos nos perder em nossos braços para que
nunca mais alguém nos encontre. Fizemos de nosso amor um banquete da melhor
qualidade.
Um amor que físico que atravessou
todas as dimensões, sem suavizar as fronteiras entre a alma e o corpo, estávamos
envoltos de tudo. Nesta condição fomos comparsas, herdeiros da paixão. Tivemos
um sexo intenso, explosivo, insubordinado e ao mesmo tempo franco e carinhoso,
protagonizamos entrega. Embriagamos de peles e cheiros, descobrimos o que contínhamos.
A nossa consumação agora vaga em nossas
memórias. Enfeitamos o nosso picadeiro, preparando para o próximo espetáculo
ainda mais real. E, agora sim, já posso morrer de tanta felicidade.
Sempre sua,
Alana
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