Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

27 de agosto de 2014

Lascívia

Nos domingos e dias-santos ela assistia à missa. A missa era sempre longa, cheia de credos, glórias e rezas. Um véu de filó preto na cabeça, guardava as tristezas maduras. 

Sentada em um banco de igreja, frente a cruz, onde Jesus se fazia vivo pela Eucaristia, ela o vendo viajava para outro corpo, assim como no Salvador: nu e vivo, só que muito mais do que ele. Enquanto inseriram um pouco de vestes no Cristo, o moço se revelava inteiro, deliciosamente impuro na mente daquela jovem, o pecado aqui parece não existir.

Ao passo que o sacerdote discorria textos prontos, ela viajava num mundo outro, naquele que a memória pungente insistia em recordar, a voz, as palavras e dando corda assim, insistentemente a um desejo recíproco. O sacramento que ao comungar era o mesmo de corpo desejado e não o do Crucificado ali presente. 

A hóstia ficou presa no céu da boca, além da cara entalada, era como se Cristo se recusasse a visitar aquele coração impuro. Um semblante que misturava a aflição com o horror ao inferno. Ela insistia em comer, em deglutir em seus dentes como o pão e vinho. 

Pecado e santidade, lado a lado, como um.

"O meu amado é para mim como um ramalhete de mirra, posto entre os meus seios" Cânticos 1, 13.

Juliana Soledade

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