Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

28 de julho de 2014

Scriptor

Gosto de folhas pautadas. Cadernetas na bolsa ou rascunhos sobre à mesa do trabalho. O conjunto de linhas horizontais que orientam a escrita no papel me agradam, me convidam para um baile animado. Eu sou densidade, o papel leveza. Misturamos nossos anseios e voamos sempre para um outro lugar distante. 

As palavras coabitam comigo a todo instante: acordo anotando sonhos, sigo lendo um capítulo de livro. Palavras vibram de minha garganta e de meus dedos. Danço solitariamente. Determino adeus ou reencontros a tantos personagens. E quando não há lágrimas nos olhos, sempre existem nas minhas palavras. 

Dou piruetas em um mundo que não é meu, entre um passeio e outro, pego o avião depressa e volto para as minhas nuvens. Posso encontrar terremotos ou um mar de Ibiza, a guerra do Iraque ou um amor atencioso na janela. É preciso retornar rápido e permitir sentir saudade do outro mundo inspirador, ampliar o desejo de querer voltar constantemente.  

Guardo sentimentos em caixas com formatos e texturas diferentes: o amor não se mistura  com a preguiça, caixas isoladas e distantes; A euforia e a perseverança não se veem; a caridade galgou um andar mais acima do que o orgulho; a paz e a gentileza se abraçaram, e eu não consigo desgrudar. 

Eu guardo palavras também. Na cabeça uma armadilha de aço, nada escapa de minha atenção, de minha memória. Nos cadernos, frases incompletas, textos reticentes. Na cabeceira, os sonhos acomodados.  

Grifo, carimbo e marco livros, gesto solene para confessar afeição. Guardo cartas de amor, recortes de memória, folhas em branco. Guardo livros, canetas e gatafunhos. Protejo recados, mensagens e lembranças. Seleciono pessoas com palavras de impacto, outras ofertam apelidos pechinchados.  

O papel e a caneta conhecem uma felicidade que eu desejo intensamente. Não penso antes de escrever, sou absurdamente irracional. Quero um universo em palavras, ou uma lâmpada acesa sobre minha cabeça.  

Ainda sou questionada: - Por que é escritora? 

Juliana Soledade é autora do livro 'Despedidas de Mim'.

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