Os
últimos dias foram, no mínimo, dolorosos por demais para nós brasileiros,
leitores ou escritores. Em dias sequenciais perdemos três nomes
importantíssimos da nossa literatura, o baiano João Ubaldo disse adeus sem
muita conversa, logo em seguida Rubem Alves silenciosamente foi se despedindo,
e agora, menos de uma semana de dois nomes relevantes terem partido, um
personagem marcante e encantador saudou os céus, o Ariano Suassuna.
Esse
comunicado já seria angustiante de qualquer modo, porém, o desprezo nos canais
de televisão foi desastroso.
No domingo,
dia 20, esperei um documentário mesmo que breve sobre Rubem Alves, no
Fantástico, sobre o seu leque de informações e conteúdos durante a sua vida.
Uma biografia que compõe uma média de 150 livros publicados, e é referencia em
diversas áreas. O programa em determinado momento, anunciou o luto, um mínimo
reconhecimento já me acalentava a respeito do educador, teólogo, e pensador contemporâneo
[que não é a ‘Valeska Popozuda’], contudo, a menção foi para o falecimento de
Norberto Odebrecht, fundador daquela construtora que leva o seu nome. Concedo-me
o direito de imaginar que se acaso ele não fosse um escritor e estudioso, mas
sim, um cantor de ‘modinha’, teriam concedido não uma nota, e sim, um bloco
inteiro, principalmente se for com hits de duplos sentidos e deploráveis.
Sinceramente,
eu me ponho a confraternizar mais uma vez com os meus pensamentos libertos:
qual a nossa expectativa diante uma mídia que deixa claro maior importância aos
empreiteiros do que aos educadores? A imparcialidade perante a morte de Rubem
Alves é antagonicamente proporcional sobre a importância concedida à educação
no país. Não é rentável e não tem ibope.
Meu
doce e educado R. Alves, assim como você, sou apaixonada por ‘Ipê amarelo’, não
tenho na frente de minha casa, mas tenho bem perto de mim, na minha infância
tinha sim um “balanço numa linda paineira”, semelhante ao seu.
O
nosso baiano João Ubaldo Ribeiro foi mais sortudo, fizeram uma reportagem
incontestável sobre a sua personalidade. Mesmo assim, mais se falou o quanto
era estimado pelos amigos de bar do que falando sobre as suas obras. No
entanto, o mais importante, é que ele foi lembrado.
Não
deu tempo de retirar o luto do corpo, e Suassuna nos dá uma rasteira grande. O
noticiário de sua morte me fez desaguar em choro, uma alma humana que me
inspirou lirismo, e fez encantar a todos nós. A emissora tentou se retratar do
furo passado e exibiu aquele filme contagiante ‘O auto da compadecida’. Hoje,
de certo, “estará numa linda cadeira de balanço de palhinha, contando, todo
elegante, uma mesma linda história para nós”.
Estamos órfãos e capengas, por favor, segure Adélia, João, Rubem. Amarre
Cecília, Chico e Luís. Apertem os cintos de Paulo, Martha e Fabrício. Conservem
os nossos, eternizem todos.Juliana Soledade é empresária, graduanda de Direito e teologia, autora do livro 'Despedidas de Mim' e edita o site www.irreverenciabaiana.com Categorias: abandono, Ariano Suassuna, carta, crônica, Despedida, Escritor, João Ubaldo, Julho, livro, respeito, Rubem Alves, saudade, tristeza, versos