Eu tive um marido que se dizia cidadão consciente.
Queixava-se do sinaleiro e ficava quase uma hora lastimando com a central da prefeitura, somente porque aquele bendito sinal passou a demorar mais 10 segundos para abrir. Enviava SMS para a administração do pedágio para informar que a fila de carros estava aumentando e passou a chegar atrasado no trabalho. Convidava formalmente o gerente do mercado para fazer a tal critica sugestiva, já que a reposição do vinho de preferência não era como deveria.
Vezes outras, surgia com o dedo apontado em meu nariz, acentuava a minha tranquila passividade e responsabilizava:
-São pessoas como você que o Brasil fica assim!
Eu nada dizia, apenas para não contrariá-lo, prefiro evitar discutir com indivíduos que deleitam-se com a briga, e para o despreparado e ignorante, melhor o silêncio, mesmo quando a razão permeia do nosso lado.
Tanto tempo se passou, preferindo a distância, com certo cansaço, desalento e dissabor, eu diria:
-Meu ex-amado, são pessoas como você que o mundo ainda não mudou.
Juliana Soledade