Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

7 de maio de 2014

Despedida



Quantas vezes nos despedimos de nós mesmos? Quantas vezes falamos adeus querendo voltar, e não voltamos? Quantas despedidas você já ofertou ao outro? Quantas foram cumpridas?

Segundo o dicionário Aurélio, despedida significa ação de despedir, ou saudação no momento em que as pessoas se separam. Entretanto, despedir de si mesmo é uma tarefa muito mais complicada, audaciosa e ousada. Vivemos nos despedindo: do útero da mãe, do desmame, daqueles brinquedos velhos que gostávamos tanto, do nosso colega que precisou partir, das tias da escola, despedimos ao dormir, ao viajar, ao namorado, ao casamento de 23 anos, do ano, despedimos de nossa família, do morto no caixão, e porque não de nós?  A despedida é um ciclo, findando apenas no momento do recomeço.

Aprendemos a viver feito gente grande quando compreendemos que crescer dói, que muitas ilusões foram matadas a machadadas, extirpamos algumas companhias, mas despedir nos ensina a ter paciência. E talvez, nos oferta o discernimento e a escolha de viver de maneira sólida e inteira dia após dia.
Recomeçar é uma palavra emocionante, mas não existe sem se despedir. Despedir, claro, de nós mesmo, abandonar o outro que vive dentro da gente.
O silêncio espesso como o que há entre os planetas, serviu para que os meus textos não fossem apenas textos. Só, solitários. A matéria-prima desta ausência de som não foi calmaria, tão pouco um abandono imutável, a solidão foi fecundada, e fertilizou as tantas palavras que estava há tempos plantadas com os pés fincados ao chão, em terra árida.
A voz que não mais era escutada estava do tamanho do vazio que existia em meu corpo. A terra antes improdutiva deu vazão a um jardim, chamado ‘despedidas’. A cada despedida, uma nova rosa era plantada, me despedi tanto que além do enorme jardim, restou um novo ciclo, o de pós-despedidas.
De todos os gestos inevitáveis da vida, se despedir é o mais doloroso, por vezes a dor é boa, acredite.
Despedida pode ser um beco sem saída ou um túnel dispensado de seus breus. Podem ser gargalhadas projetadas para o céu, ou lágrimas que escorrem assimetricamente.
Sentir a despedida é ter a melancolia indo e vindo, é ter esperança corrompida. É esperar um vento de boas notícias, mas ter apenas sentimentos com um pouco de pesar.
Te proponho um desafio, despeça-se da roupa que não lhe cabe mais, do antigo trabalho que ainda não se desvinculou, dos caminhos que, até hoje, eram de todo dia. Desapegue da casa onde você viveu, transforme o amor do passado, em passado.
No final das contas, dizer adeus a algumas coisas é encerrar um ciclo e viver o novo.



Juliana Soledade

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