Aquele beijo foi esperado, entre o vidro do carro entreaberto e os jatos de ar frio que disparavam do ar-condicionado. O bilhete deixado embaixo do celular do rapaz foi a avalanche dos últimos acontecimentos. A troca de olhares, o diálogo, a intensidade do desejo, tudo cronometrado. O que deveria ser mais uma noite de happy hour foi a materialização do querer daquela moça.
Ele é alto, grisalho e boêmio, mas aos olhos dela ele é puramente encantador. A janela da alma enquanto aberta, constantemente deflagrava alguns minutos em reverência. Ela deslizava a sua lascívia quando se locomovia à sua frente. Desde muito esse encantamento é persistente, não como uma exigência individual, e sim pela avidez voraz; o anelo progressivo.

As pedras foram atraídas feito imã, unidas sem restrições na batida rápida da musicalidade, confinados nas bebidas quentes, cálidos de intensidade. Uma universalidade de ambição ameaçava a comunhão, eles queriam um pouco mais do outro. A sensualidade avassaladora transportava lentamente, intensos de energia para um baile a dois.
O comportamento humano em face da libido desassossegou o instante. Os brincos e anéis foram despejados, as roupas íntimas arrancadas. A cama já não era mais a mesma, a volúpia alterou os instintos, a respiração ofegante, os vizinhos do andar abaixo incomodados. Ardendo na carne como ferro incandescente. Olhares com insondáveis mistérios. As mãos afagavam apenas o que antes davam bordejos. Em curvas delicadas, caminhos torneados, ali onde a loucura imperava absoluta, e os olhos virados como a olhar um deserto. Dois amantes inundados de prazer. Duas almas extasiadas. Dois momentos separaram o presente-passado-futuro.
Ele abriu a porta. Ela partiu com vontade de ficar.
O efeito colateral foi o silêncio de despedida.
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Juliana Soledade