Preciso lhe contar sobre as minhas
singularidades deste último ano, entre elas vivi com um homem argentino. Desde
o primeiro momento revelei a ele sobre alguém, que em algum lugar, ocupa uma
grande parcela em mim. Seu nome foi preservado, mas senti a necessidade de
registrar a sua existência, por mais que me obrigasse a tirá-lo dentro de mim, mas
era o mesmo que velejar contra o vento, não foi possível dissocia-lo de minha
vida. Vivi o pior dos romances sem amor, uma continuidade sem sentido, uma
circunstância passível quando dois carentes se encontram. Amar, apenas você
querido. Amo tão somente você.
Estou retornando de Buenos Aires,
quando estive próxima a você tentei falar-lhe por vários dias, infelizmente tentativa
vã. Possivelmente estava fora. Sua assistente atendeu-me, foi reticente e eu
não quis insistir.
Cada vez que falo em Lisboa rio
sozinha, fazendo lembrança de quando nos conhecemos, entre um café quente e
outro, trocando informações daquilo que nos atrai. Relembro outro momento que
fiquei te observando sozinho, perdido na imensidão do transito da cidade
grande, habilidoso e atencioso. Procurava em seus gestos um pouco mais de
desejo (e querer), mas não percebi.
Outra vez enquanto almoçávamos,
procurei me colocar perto. Você pouco reparou em meus olhos, ávidos de lascívia,
possivelmente estive ansiosa em demasia. Tudo tão inesperado: atraso de
translado, falhas na comunicação, compromissos inadiáveis... Mas meus olhos
sobre os seus, repletos de ambição, buscando um pretexto para tê-lo em meus
braços.
Tudo o que eu queria era conversar ainda mais contigo, saber
mais. Sabemos muito pouco um do outro, como se já nos conhecêssemos há bastante
tempo. Neste dia em que almoçamos, atrapalhei sua agenda profissional e
acabamos deliciando um maravilhoso vinho chileno.
Desde o primeiro momento identificamos afinidades, entre uma
palavra e outra tive vontade de carregá-lo comigo; doce, sensível e maduro,
essa é a ponte que me liga a você por tanto tempo. Pude sentir a força que
emanava de você a contar do primeiro abraço. Fui tomada de imediato
encantamento. Duvidava do amor à primeira vista. E conseguia duvidar que
pudesse amar outra vez, e assim se vão tantos anos!
O mistério ronda aos mais próximos, alguns vivem me
oportunando, querem saber quem eu tanto amo em segredo, e o motivo que ainda não me liguei seriamente
com alguém. Por que eu não tive filhos? Por que não me casei outra vez?
Fui feliz com Ziven, consigo compreender meu sucinto tempo
com ele, serviu-me como uma terapia para expulsar os demônios que me cercavam,
passei a me reconhecer melhor, abrandando os segredos que habitavam em meus porões,
tornando-os menos agressivos. Alcancei equilíbrio, hoje sinto paz.
À medida que fui me reconhecendo, abri várias moradas que eu
escondia e passei a relacionar com elas como se fora velho amigo. Não sei por
que enveredei por estes assuntos tão meus, mas posso dizer tudo o que sinto: estou
pronta para você!
Venha sonhar comigo e achar na esperança mais significado
para nossas vidas. É ela, além do amor, o sentimento que nos impulsiona a
começar tudo outra vez.
Espero, meu amor, que nosso mar de indefinições tenha se dissipado
nas faixas de luz que deixamos escapar de nós.
Preciso contaminar-me de você, até breve!
Stella