“O que querem os
jovens e as multidões, com essa massa esmagadora de tantos questionamentos?”
Uma pergunta que ecoa de um
milhão de vozes, que ainda faz o país implorar por resposta digna e concreta.
Vemos que o gigante espreguiçou e dominou a sociedade que até então estava
adormecida.
Os protestos dos anos 60/70 tem
uma identidade política de esquerda, enquanto esses protestos têm uma
identidade mais diluída, tanto social, quanto civil, os protestos atuais não
querem ser vistos como de direita ou de esquerda, estamos contra o sistema, não
há liderança aparente, não há nomes específicos, familiarizados ou não nos
representando. É a voz do povo.
Desde a campanha das diretas da
década 80 no século passado, não se via nada semelhante na historia do país. Na
última vez em que o povo invadiu as ruas em busca da tão sonhada democracia o
presidente caiu, ao rememorar esse fato percebemos que o povo tem voz, e como
diria Chico Buarque na música “Roda Viva”: “A gente quer ter voz ativa/ No nosso
destino mandar...”..
Percebemos que as pessoas não se
sentem representadas pelas instituições democráticas, não é contra a
democracia, pelo contrário, a favor desde que tenha a efetividade garantida
constitucionalmente e a nossa multidão representativa é ciente que de fato nada
está sendo tratado como deveria.
O que querem de fato os manifestantes?
Participar? Serem ouvidos? Falar? Se fosse apenas isso, esse objetivo já teria
sido conquistado, mas não, queremos muito mais, queremos influenciar
diretamente, como um país dito democrático, onde a voz do povo deve ser ouvida.
25 anos de vida democrática e consciente disso é que vamos às ruas e
preenchemos as lacunas existentes, seja com o nosso grito de socorro, seja com
as nossas mobilizações.
Não vivemos uma guerra civil, não
temos as dores do Iraque, não sofremos como a África, não estamos diante a
escravidão da China ou a ditadura de Cuba, contudo estamos na opressão,
principalmente quando somos obrigados a aceitar a importação seis mil médicos
estrangeiros - diferente de médicos formados que estudaram em outros países e
para exercer a profissão em território nacional é necessário revalidação do
curso em universidade federal e não o investimento na saúde pública.
Sofremos na prepotência quando um
homofóbico assume uma comissão de direitos humanos. Vemos a tirania de
políticos que tentavam a aprovação da emenda constitucional (PEC-37) para
justamente desconstituir o poder de investigação de uma instituição que ainda
consegue atuar com independência e tão somente pela nossa luta que, por
unanimidade este Projeto de Emenda Constitucional medíocre foi desestabilizado
e rejeitado. Somos obrigados a aceitar a corrupção, os desmandos e tantos
(des)governos.
Não podemos esquecer-nos do
significado de MOVIMENTO: coisas que se mexem, que se animam, que se espalham e
depois mesmo desaparecendo deixaram marcas, com valores e identidades
especificas. Movimentos que trazem uma grande mudança cultural: passamos a
pensar diferente, esclarecendo que não estamos apoiando o atual sistema
econômico, logo não está refletindo na necessidade do nosso corpo social.
Apresentando a pequena Maria o que é democracia. |
Às vezes parece ser apenas vinte
centavos, mas é a chamada “cascata de informação” como bem diz os sociólogos,
que se realiza quando um grupo pequeno tem uma atitude em comum e decidem se
unir, nesta união tudo ganha proporções interessantes, as ações se tornam
maiores, em seguida, mais pessoas acreditam nesta ‘atitude do bem’ e de repente
a Avenida Paulista, como tantas outras do Brasil se tornam cobertas de pessoas
buscando a tão sonhada revolução com um ‘cardápio’ de reivindicações para
começar a mudar um país que por vezes se mostra engessado.
A partir de uma tarifa, um
pequeno aumento, desvendou os brasileiros e mostra dia após dia que está tudo
errado no sistema, a tarifa é apenas um símbolo... Apesar de uma questão ínfima
tornou-se imã para os tantos problemas existentes, as questões individuais que
se tornaram um corpo e hoje tem voz para somar ao coro.
Essa onda de manifestações que
varrem o país quebra o silêncio que ficou insuportável para uma parcela
expressiva da população e o alcance da manifestação prova que o mundo virtual é
o mundo real e esta sendo escrita uma nova página da nossa história.
Existe um tipo de liderança,
diferente da tradicional, a de hoje está diretamente ligada na tecnologia. ‘As
lideranças’ são aquelas que tomam iniciativa virtual para os movimentos que é
muito mais complexa do que os movimentos anteriores. Da mesma forma que a mídia
é muito mais complexa do que em movimentos que já aconteceram. Sem bandeiras
nas manifestações, os jovens não querem representações partidárias.
Com a acessibilidade para as redes
sociais e a difusão de informações com rapidez, temos uma grande quantidade de
pessoas que aderem com facilidade, facilitando taticamente a ação dos
manifestantes, entretanto, é importante frisar que nenhuma manifestação ocorre
por causa das redes sociais, mas ela difunde e propaga as informações.
Não podemos deixar de enxergar os
excessos, existem de ambos os lados e vem encontrando resistência naqueles que
defendem o caráter pacifico das manifestações, por vezes prejudicando àqueles
‘do bem’.
A multidão se volta para uma
grande demonstração de democracia e é nas ruas que vemos a força de expressão
do coletivo, também está à ação de alguns grupos mais violentos, mas eles são
minoria e não representam a grande massa unida em busca da mudança.
Pensando de maneira prática e
objetiva, o movimento já deu certo, a pressão funcionou. Os aumentos foram
revogados e outras cidades se comprometeram a essa decisão, só que as nossas
reivindicações ultrapassam os aumentos tarifários do transporte, e, justamente
neste outros temas é que batalha está travada e demorara até termos uma
resposta à altura, porque os cinco pactos anunciados pela nossa presidenta são
apenas um ‘cala-a-boca’ para a sociedade brasileira e a reforma constitucional
é apenas mais uma manobra política, onde muitos juristas renomados já se
posicionaram contra a partir de tantas divergências após o anúncio.
Pois o que queremos afinal são
mudanças que atinja a estrutura em longo prazo: mudanças que sejam econômicas,
politicas, jurídica, entre tantas outras necessárias.
Não deixemos de lembrar que ano
vindouro teremos a copa do mundo, ano politico, e no balanço não podemos
ignorar o peso dessa multidão que clama o hino nacional, deixando de permanecer
“deitado eternamente em berço esplêndido” e mostrando que “um filho teu não
foge à luta”, insistindo na prática das palavras de ordem e progresso de nossa
bandeira.
Juliana Soledade
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