Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

28 de junho de 2013

Os efeitos das manifestações

“O que querem os jovens e as multidões, com essa massa esmagadora de tantos questionamentos?”

Uma pergunta que ecoa de um milhão de vozes, que ainda faz o país implorar por resposta digna e concreta. Vemos que o gigante espreguiçou e dominou a sociedade que até então estava adormecida.

Os protestos dos anos 60/70 tem uma identidade política de esquerda, enquanto esses protestos têm uma identidade mais diluída, tanto social, quanto civil, os protestos atuais não querem ser vistos como de direita ou de esquerda, estamos contra o sistema, não há liderança aparente, não há nomes específicos, familiarizados ou não nos representando. É a voz do povo.

Desde a campanha das diretas da década 80 no século passado, não se via nada semelhante na historia do país. Na última vez em que o povo invadiu as ruas em busca da tão sonhada democracia o presidente caiu, ao rememorar esse fato percebemos que o povo tem voz, e como diria Chico Buarque na música “Roda Viva”: “A gente quer ter voz ativa/ No nosso destino mandar...”..

Percebemos que as pessoas não se sentem representadas pelas instituições democráticas, não é contra a democracia, pelo contrário, a favor desde que tenha a efetividade garantida constitucionalmente e a nossa multidão representativa é ciente que de fato nada está sendo tratado como deveria.

O que querem de fato os manifestantes? Participar? Serem ouvidos? Falar? Se fosse apenas isso, esse objetivo já teria sido conquistado, mas não, queremos muito mais, queremos influenciar diretamente, como um país dito democrático, onde a voz do povo deve ser ouvida. 25 anos de vida democrática e consciente disso é que vamos às ruas e preenchemos as lacunas existentes, seja com o nosso grito de socorro, seja com as nossas mobilizações.

Não vivemos uma guerra civil, não temos as dores do Iraque, não sofremos como a África, não estamos diante a escravidão da China ou a ditadura de Cuba, contudo estamos na opressão, principalmente quando somos obrigados a aceitar a importação seis mil médicos estrangeiros - diferente de médicos formados que estudaram em outros países e para exercer a profissão em território nacional é necessário revalidação do curso em universidade federal e não o investimento na saúde pública.

Sofremos na prepotência quando um homofóbico assume uma comissão de direitos humanos. Vemos a tirania de políticos que tentavam a aprovação da emenda constitucional (PEC-37) para justamente desconstituir o poder de investigação de uma instituição que ainda consegue atuar com independência e tão somente pela nossa luta que, por unanimidade este Projeto de Emenda Constitucional medíocre foi desestabilizado e rejeitado. Somos obrigados a aceitar a corrupção, os desmandos e tantos (des)governos.

Não podemos esquecer-nos do significado de MOVIMENTO: coisas que se mexem, que se animam, que se espalham e depois mesmo desaparecendo deixaram marcas, com valores e identidades especificas. Movimentos que trazem uma grande mudança cultural: passamos a pensar diferente, esclarecendo que não estamos apoiando o atual sistema econômico, logo não está refletindo na necessidade do nosso corpo social.
Apresentando a pequena Maria o que é democracia.

Às vezes parece ser apenas vinte centavos, mas é a chamada “cascata de informação” como bem diz os sociólogos, que se realiza quando um grupo pequeno tem uma atitude em comum e decidem se unir, nesta união tudo ganha proporções interessantes, as ações se tornam maiores, em seguida, mais pessoas acreditam nesta ‘atitude do bem’ e de repente a Avenida Paulista, como tantas outras do Brasil se tornam cobertas de pessoas buscando a tão sonhada revolução com um ‘cardápio’ de reivindicações para começar a mudar um país que por vezes se mostra engessado.

A partir de uma tarifa, um pequeno aumento, desvendou os brasileiros e mostra dia após dia que está tudo errado no sistema, a tarifa é apenas um símbolo... Apesar de uma questão ínfima tornou-se imã para os tantos problemas existentes, as questões individuais que se tornaram um corpo e hoje tem voz para somar ao coro.

Essa onda de manifestações que varrem o país quebra o silêncio que ficou insuportável para uma parcela expressiva da população e o alcance da manifestação prova que o mundo virtual é o mundo real e esta sendo escrita uma nova página da nossa história.

Existe um tipo de liderança, diferente da tradicional, a de hoje está diretamente ligada na tecnologia. ‘As lideranças’ são aquelas que tomam iniciativa virtual para os movimentos que é muito mais complexa do que os movimentos anteriores. Da mesma forma que a mídia é muito mais complexa do que em movimentos que já aconteceram. Sem bandeiras nas manifestações, os jovens não querem representações partidárias.

Com a acessibilidade para as redes sociais e a difusão de informações com rapidez, temos uma grande quantidade de pessoas que aderem com facilidade, facilitando taticamente a ação dos manifestantes, entretanto, é importante frisar que nenhuma manifestação ocorre por causa das redes sociais, mas ela difunde e propaga as informações.

Não podemos deixar de enxergar os excessos, existem de ambos os lados e vem encontrando resistência naqueles que defendem o caráter pacifico das manifestações, por vezes prejudicando àqueles ‘do bem’.

A multidão se volta para uma grande demonstração de democracia e é nas ruas que vemos a força de expressão do coletivo, também está à ação de alguns grupos mais violentos, mas eles são minoria e não representam a grande massa unida em busca da mudança.

Pensando de maneira prática e objetiva, o movimento já deu certo, a pressão funcionou. Os aumentos foram revogados e outras cidades se comprometeram a essa decisão, só que as nossas reivindicações ultrapassam os aumentos tarifários do transporte, e, justamente neste outros temas é que batalha está travada e demorara até termos uma resposta à altura, porque os cinco pactos anunciados pela nossa presidenta são apenas um ‘cala-a-boca’ para a sociedade brasileira e a reforma constitucional é apenas mais uma manobra política, onde muitos juristas renomados já se posicionaram contra a partir de tantas divergências após o anúncio.

Pois o que queremos afinal são mudanças que atinja a estrutura em longo prazo: mudanças que sejam econômicas, politicas, jurídica, entre tantas outras necessárias.

Não deixemos de lembrar que ano vindouro teremos a copa do mundo, ano politico, e no balanço não podemos ignorar o peso dessa multidão que clama o hino nacional, deixando de permanecer “deitado eternamente em berço esplêndido” e mostrando que “um filho teu não foge à luta”, insistindo na prática das palavras de ordem e progresso de nossa bandeira.

Juliana Soledade

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