Ainda não descobriram a fórmula de saltar de um dia para o outro sem ser
percebido, do mesmo modo que ainda não encontraram a mágica para diminuir a
saudade.
Fazem três anos que eu busco fugas nesta data, que nem mesmo a terapia foi
capaz de contribuir com tanto êxito. Para mim, é humanamente impossível
esquecer a data de quem eu muito amei em vida, ou fingir que nada sinto.
Em todo 25 de Abril, maquinava dias antes o que fazer: como vai ser o
bolo? Que presente ele vai mais gostar? Blusas, meias, cuecas, lenços, sapato?
Não. Não, isso já tinha dado em todos os aniversários anteriores. Necessitava
ser algo diferente... O que pode ser diferente? A cabeça sempre voava, as idéias
eram minúsculas em relação a seu merecimento. E tinha que ter surpresa, como
sempre foi.
Ontem, visualizando o relógio encontrando os
ponteiros e transformando o dia 24 no dia seguinte, foi doloroso. Há quem não
queira reviver esse dia ao meu lado, mas apenas um desejo me cercou: ter o seu colo
com aquele abraço e leves batidinhas nas costas. Sim, ainda não sou capaz de
aceitar a sua partida, consigo até vislumbrar o surgimento dele com o sorriso
farto adentrando a porta de casa. Loucuras a parte e sem (pré)julgamentos, ok?
Para sofrer de verdade tem que colocar aquela
música que mais marcou, ler as cartas passadas, chorar (mesmo que em silêncio),
relembrar alguns momentos e, cá entre nós, eu sei fazer isso como ninguém. Chegando
ao trabalho, fui ler algumas coisas que já rabisquei, e por aqui compartilho.
Hoje, pouco mais de
um mês em vácuos de abraços...!
Em olhares
escurecidos pela saudade.
Em lágrimas teimosas
de cascatas.
Sinto frio, Voinho!
O vento congela o meu
sorriso.
Como essa vida nossa
é ingrata!
Achamos Vô, que somos donos do mundo!
Acreditamos de quem amamos verdadeiramente.
Nada disso! não somos
donos nem dos nossos narizes..
Parece que foi ontem, Vô, que eu era tão pequena, franzina e chorona...
E vinhas me dar
carinho e me levantar dos muitos tombos, com a simples frase: Caiu, levanta para cair de
novo!
Lembro-me das vezes
em que pequena fazia brincadeiras na cadeirinha na porta de casa, ou quando
corria das palmadas de Mainha e me escondia atrás de sua proteção.
Eu me sentia protegida e feliz!
Mas, um dia, vi que a
vida não era assim tão mágica e cresci... Meu corpo espreguiçou-se e tiver que
caminhar sozinha.
Fui capaz de lhe proporcionar a sensação de ter a primeira bisneta,
a felicidade irradiava no nascimento dela.
E quando pensava que
a morte era só falácia... Perdi seu colo!
E como sinto esse
vácuo imenso chamado saudade!
Durma bem meu querido
avô!
Itabuna/BA, 25 de
Julho de 2010
Faz frio e o coração
só chora.
Sempre que já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...
"O
choro? São lágrimas salgadas deste mar.
São
íntimos instantes...
Instalados
e transbordantes...
Experiências
intransferíveis."
João
Lins
Vovô, parabéns meu velhinho!
Um beijo,
Sua neta, sua Jully, por vezes trocada por Ana.