Hora cheia, meio dia. Após deixar o turno do trabalho e ir
buscar a filha na escola, ainda no carro, sou surpreendida com questionamentos
e confidências que me deixaram com o cabelo em pé.
- Mãe, preciso te contar uma coisa que aconteceu – Assim diz
a menina com a voz doce e suave.
- Diga filha. - Arqueando as sombrancelhas e tentando enxergá-la pelo retrovisor.
- Neto, meu colega, me pediu em namoro – Disse colocando as mãozinhas
no rosto.
- Como? – Pergunto perdendo a marcha, acionando a seta e
tentando encostar o carro.
- Sim, mãe, ele me pediu em namoro. – Respondendo
pausadamente.
- E você? O que disse? O que sentiu? – Passo as mãos
pelos cabelos com a mente confusa.
- Ele me abraçou e, eu falei que gostei do perfume dele –
Ela responde vermelhinha.
- Então? Aceitou o pedido de namoro? – Desejando internamente
a resposta negativa, mas como sempre, ela me deixa pasma.
- Mãe, eu disse ‘mais ou menos’.
- Mais ou menos, filha? – O que seria namorar ‘mais ou menos’,
penso eu. Pedindo aos anjos a maior serenidade e calmaria naquele momento.
- Sim, mãe, ‘mais ou menos’. Ele brinca com os amigos dele e, eu brinco com as minhas amigas. Mas, ele me abraça de vez em quando.
Retornei a pista, guiei o carro dispersamente entre as
melodias que ecoavam das caixas de som, e uma série de pensamentos que inundavam
a minha razão ‘Mãe de ser’. Apesar de receber os confortáveis ventos frios do
ar-condicionado, minha Maria continuava vermelha, como os quase 40 graus que se
mantinham no exterior do veículo. Permanecemos mudas.
Ao acionar o portão eletrônico e aguardar ele abrir, passo
os olhos no retrovisor e a vejo entre o cinto de segurança aguardando alguma fala
minha, o olhar sereno confortou a menina que me confidenciava os primeiros flertes
da vida dela. Ao descer do carro sou surpreendida, mais uma vez, recebo o
abraço caloroso e agradável, ela encaixa a cabeça no meu peito, de modo que
pode ouvir o meu coração e diz:
- Mamãe, eu te amo, não fica brava comigo. – Ela diz com calmamente
com a voz mansa, mas com inquietude.
- Eu te amo, filha. E não ficarei brava. – Recebo outro
abraço, ainda mais apertado, com afeto e minhas lágrimas.
As recomendações, dicas, conversas, mais confidências, diálogos
com o ‘mais ou menos’, estão vindo, dia após dia. Eu continuo imersa de
pensamentos que não consigo explicar, uma emoção de ver a filha crescendo e as
responsabilidades caminhando lado a lado. Contudo, o companheirismo e cumplicidade
‘mãe-filha’ é a minha maior satisfação, claro, a orientação, razão e os
cuidados são maiores do que sensação de curtos momentos de comoção.
Juliana Soledade
Itabuna/BA, 27 de fevereiro de 2013