Bacharel de Direito, estudante de Teologia, pós graduanda de Direito, escritora, empresária e blogueira. Quase mulher, quase gente, quase anjo, quase santa. Apaixonada por nuvens e mar. Nem muito doce e nem tanto amarga. Feita de carne, osso, pele, cor e poema.

23 de julho de 2016

Prazo de validade

Aniversariar é o réveillon dento de nós. É escutar os fogos de artificio no bater dos ponteiros a meia noite.

Eu canso de acordar me sentindo velha, uma velha rabugenta. Dessas reclamonas: com a louça suja, com a escova de dente fora do lugar ou com o trânsito fora de órbita.  
Não me recordo de ter sido um bebê formoso, muito embora as fotos sempre se apresentem como iluminadas. As fotos também trazem um silêncio doloroso, é como se muitas perguntas tivessem ficado sem respostas. É um silêncio complexo. 

A verdade é que renasci intensamente ao longo dos 27 anos vividos. E nesse nascer de novo me deixei ser a criança que não fui. A mãe amorosa e atenta aos sinais. Essa vida vive me gastando, mas renego a obrigação de envelhecer quando procuro ser mais humana e abraçar a paz que eu sempre desejei, e que hoje sei da sua permanência ao meu lado. 

Procuramos motivos para nos definir: o signo, os traumas, heranças e as cicatrizes. Hoje com o tocar de sinos representando um novo tempo, não me preocupo com o caminho percorrido ou as pedras recolhidas. Desde 2006 permaneço num reinado que não quero sair, quando deixei de ser apenas Juliana e passei a ser mãe de Maria como sobrenome, e é justamente isso o que permeiam as minhas escolhas e decisões.  

Nasci velha: nas responsabilidades adquiridas desde o abrir de olhos. Na responsabilidade de amar e no direito de não ser amada. Nasci velha e a cada aniversário bate uma reflexão aqui dentro, como tivesse a obrigação de somar em números frios os assaltos da vida.  

Nasci tão velha que não guardo sapatos para ocasiões especiais, nasci velha o suficiente que a vida pode ser mais curta do que a minúscula saia que tenho no guarda roupa. Nasci velha para ter consciência de que posso abusar dos sentimentos, das roupas e da vida. 

Quero continuar assim: menina, mulher, sol, brilho, óculos de sol, pedaço de mar e duas garrafas de espumante. 


Neste aniversário, talvez mais do que os outros, eu posso dizer depois do meu longo minuto de silêncio: obrigada Deus!

Juliana Soledade

Publicação realizada no Jornal A Região no dia 23 de Julho de 2016.

Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Postar um comentário