Olhar para Maria é sempre uma poesia
a ser desvelada, primeiro porque é de tamanha simpatia e beleza que nem sempre
os meus olhos são capazes de decifrar, segundo porque além de derramar cuidados
por mim e por seus pares, ela consegue acalentar com gestos mínimos desde o meu
coração desenfreado até os meus mais intranquilos passos.
Não consigo contar em dedos
quantas foram às vezes que ‘abri o jogo’, que expus sem medo das minhas dificuldades,
dos medos desesperadores, das minhas perdas ou tristezas. Uma menina que consegue
entender as minhas angústias e apaziguar minhas inquietudes com palavrinhas
mágicas: ‘tudo vai ficar bem, mamãe’. E tudo fica bem. Parece-me sempre bem
apropriado o seu nome: Maria, que vez ou outra toma as rédeas e se torna a mãe
protetora. Ainda, talvez, seja essa a razão que eu não consiga chamar pelo seu nome Maria Fernanda, o Fernanda nunca me trouxe tantos motivos como o Maria.
A vida de fato começou para nós
duas não quando escutei o seu coraçãozinho agitado bater, mas quando sozinha ninava
um bebê de dois anos. Após esbravejar o primeiro divórcio aprendemos a caminhar
de mãos dadas e firmemente unidas para a continuidade da vida. Descobrimos a
força e coragem para num momento conturbado enfrentar um caminho possível para
vencer os nossos próprios limites.
Embora traços de tristeza e embaraços
tenham atingido em cheio algumas de nossas passagens, acredito que nada seja
por acaso. O período mais difícil sempre passa e aprendemos a nos recompor, e
mesmo no meio de tantos turbilhões, Maria apresenta a leveza, além disso, revela
diariamente que mesmo com tantos questionamentos sobre a vida e o futuro sou a
mãe que ela precisa ter, exatamente do jeitinho que ela necessita. Em contra
partida, tento ser uma mãe possível, desesperadoramente racional. Em poucas
palavras filho é amar mais do que a si mesmo. É encantar-se, desesperar-se e inclusive
proteger dos perigos nem tão perigosos assim.
O lamento da ausência paterna no
início dos tempos se confrontou com a possibilidade de ser mais presente, mais
inteira. A sensação que me incomodava naturalmente foi transformada em
conforto, Maria encontrou um ‘painho’ para amar e contribuir na educação sem se
tornar um fardo pesado. E ela desvendando um herói sem asas escondido debaixo
do mesmo teto, formando quase sempre uma dupla imbatível difícil de ser
abalada.
E nesses seus quase nove anos de vida,
eu que nasço de novo, centenas de vezes só para ser um pouco melhor para você.
(sim, um texto sem motivo, sem porquês,
sem razões definidas, surgiu apenas para eu atestar a minha gratidão por sua
vida).
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